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Dom Odilo diz que próximo papa pode ser africano
Após a morte do Papa Francisco, na madrugada desta segunda-feira (21), o cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, comentou o futuro da Igreja Católica e o perfil desejado para o novo pontífice. Em entrevista concedida na Catedral da Sé, o religioso destacou o legado de Francisco e disse que ninguém deve esperar uma cópia exata do papa recém-falecido.
“O próximo papa será uma pessoa humana, não um robô”, afirmou.
Dom Odilo, que deverá participar do conclave que elegerá o novo papa, também reforçou a possibilidade de um sucessor não europeu. “O colégio de cardeais hoje é muito mais internacional. Ninguém deveria se surpreender se for um cardeal africano ou asiático”, disse. Ele ressaltou que 80% dos cardeais atuais foram nomeados pelo próprio Francisco, muitos vindos de regiões como África, Ásia e América Latina.
Rebatendo rótulos como “progressista” ou “conservador”, dom Odilo afirmou que a Igreja é fiel ao Evangelho, e, por isso, defende tanto valores tradicionais quanto causas como justiça social e cuidado com imigrantes.
“A preocupação com a paz, os pobres e a dignidade humana não é ideológica, é cristã”, pontuou.
Ele também elogiou a firmeza do Papa Francisco no combate aos abusos sexuais no clero. “Foi ele quem tomou medidas drásticas para corrigir essa chaga moral que afeta a Igreja”, afirmou, reconhecendo os avanços iniciados pelos papas João Paulo II e Bento XVI, mas aprofundados por Francisco.
Dom Odilo recebeu com pesar, mas sem surpresa, a notícia da morte do pontífice. Segundo ele, os sinais de fragilidade do papa como o uso constante de cadeira de rodas e medicamentos, já indicavam que sua saúde estava em declínio.
“A pneumonia foi um golpe forte”, avaliou.
Questionado com humor sobre uma possível candidatura ao papado, o arcebispo desconversou:
“Todos têm direito de torcer”, brincou. Em 2013, dom Odilo chegou a ser citado como um dos favoritos no conclave que elegeu o argentino Jorge Mario Bergoglio como Papa Francisco.
Atualmente com 75 anos, dom Odilo já solicitou a renúncia ao comando da Arquidiocese de São Paulo, conforme previsto pela norma da Igreja. Francisco, no entanto, pediu que ele permanecesse até o fim de 2026.
Com a morte do primeiro papa latino-americano da história, a Igreja inicia um novo capítulo. Mas, como lembrou dom Odilo, o espírito de Francisco deve permanecer vivo:
“Ninguém espere um papa que não cuida dos pobres ou que seja a favor da guerra. A essência do Evangelho continua”.