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Bets dominam transmissões do Brasileirão

Estudo revela que propagandas de apostas aparecem em 70% do tempo de exibição dos jogos, superando o tempo de bola rolando em campo

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Neymar em ação pelo Santos contra o CRB pela Copa do Brasil • Raul Baretta / Santos FC

Se você já teve a impressão de ver mais propagandas de apostas esportivas do que futebol ao assistir ao Campeonato Brasileiro, saiba que não está sozinho — e nem errado. Um levantamento feito pela Folha de S.Paulo aponta que 70% das transmissões exibem algum tipo de publicidade de casas de apostas, superando o tempo em que a bola está efetivamente em jogo, que é de 55%, segundo o site 365Scores.

A análise se baseou em 22 partidas da edição de 2025, transmitidas por plataformas como Amazon Prime, Globo, Record, CazéTV, Sportv e Premiere. Para cada minuto de jogo, foi sorteado um frame, totalizando 2.023 imagens analisadas por inteligência artificial do Google (Cloud Vision), que identificou palavras-chave como bet, aposta, cassino, sorte, 365 e pitaco.

Os resultados impressionam: jogos como Corinthians x Vasco e Sport x Palmeiras ultrapassaram 80% de exposição a anúncios. Isso significa que mesmo quando o torcedor acha que está focado na bola, sua atenção está cercada por estímulos visuais que promovem as apostas.

“As camisas do futebol brasileiro estão entre as principais ferramentas de exposição de marca”, explica Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM. Segundo ele, as bets são hoje a principal fonte de patrocínio dos clubes brasileiros, sendo que 18 dos 20 clubes da Série A têm uma casa de apostas como patrocinadora master.

O impacto financeiro é visível: as receitas comerciais dos clubes da elite cresceram 29% em 2023 e 11% em 2024, conforme dados do relatório “Convocados”, da Galapagos Capital. O valor estimado para patrocínio master em 2025 deve alcançar R$ 988 milhões, o maior da história.

Mas o crescimento acelerado desse setor traz preocupações. Organizações médicas e psiquiatras alertam para o risco crescente de transtornos causados por jogos de aposta, especialmente entre adolescentes. Segundo estudo da Unifesp, 4% dos apostadores no Brasil têm entre 14 e 17 anos, sendo que mais da metade apresenta risco de desenvolver vício.

“A gente vê jovens recebendo estímulos o tempo todo, como se fosse normal apostar. É como oferecer álcool para criança”, afirma Mirella Mariani, psicóloga do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (USP). O ambulatório de transtornos do impulso viu a fila de atendimentos crescer 10 vezes nos últimos cinco anos.

Em resposta às críticas, o Senado aprovou um projeto de lei que restringe a propaganda de apostas em estádios, define horários de exibição e proíbe o uso de atletas, influenciadores e artistas. O texto ainda será analisado pela Câmara dos Deputados.

Apesar das críticas, o mercado de apostas segue como protagonista das finanças do futebol nacional, com empresas jovens, orçamentos milionários e uma presença cada vez mais dominante nas transmissões. Como aponta Ivan Martinho, “não existe outro setor hoje disposto a pagar o que as bets pagam aos clubes”.

Redação Saiba+

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