Brasil
PF expõe falhas no INSS e desvios bilionários
A Polícia Federal (PF), em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou nesta quarta-feira (24) a operação Sem Desconto, revelando um dos maiores escândalos de má gestão e possível corrupção no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos últimos anos. A ação investiga um esquema de descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas, que pode ter causado prejuízo superior a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
O escândalo atingiu diretamente a cúpula do INSS: o então presidente Alessandro Stefanutto foi afastado por decisão judicial e demitido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a operação vir a público. Também foram afastados o procurador-geral do instituto, Virgílio Antônio de Oliveira Filho, e outros servidores envolvidos. A Justiça ainda determinou o sequestro de bens avaliados em mais de R$ 1 bilhão e expediu seis mandados de prisão temporária em pelo menos 13 estados e no Distrito Federal.
De acordo com a PF, os descontos, realizados por sindicatos e entidades associativas diretamente nas aposentadorias, deveriam ter sido previamente autorizados pelos beneficiários — o que, em muitos casos, não aconteceu. A situação se agrava diante do perfil das vítimas: muitos aposentados sequer sabiam ler ou tinham acesso aos meios digitais para verificar seus contracheques, ficando à mercê de fraudes silenciosas.
Dados obtidos via Lei de Acesso à Informação revelam que a arrecadação sindical por meio desses descontos quase triplicou nos últimos dois anos, saltando de R$ 30,7 milhões em 2022 para R$ 88,6 milhões em 2023. No mesmo período, as reclamações sobre cobranças indevidas aumentaram 280%, passando de 26 mil para 98 mil queixas.
Embora os descontos associativos sejam legais quando autorizados, o número de denúncias já apontava para a urgência de uma investigação. Segundo as autoridades, os envolvidos responderão por corrupção ativa e passiva, falsificação de documentos, violação de sigilo funcional, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A operação da PF escancarou o descontrole que reina em um órgão essencial como o INSS. Seja por negligência, incompetência ou má-fé, o instituto permitiu que sindicatos e entidades associativas driblassem as regras para aumentar seus lucros às custas de aposentados e pensionistas. Tudo isso poderia ter sido evitado com um mínimo de cuidado e responsabilidade com o dinheiro público.