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Escândalo no INSS: fraude bilionária e o silêncio do governo

Ex-diretores do INSS teriam recebido R$ 17 milhões em vantagens ilegais de entidades que aplicaram descontos fraudulentos em benefícios de aposentados.

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Lula / (Victor Moriyama / Stringer,/Getty Images)

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está no centro de um dos maiores escândalos recentes envolvendo o setor público. A Polícia Federal investiga uma rede de corrupção que teria desviado quase R$ 8 bilhões por meio de descontos não autorizados em aposentadorias e pensões. O esquema envolveria entidades associativas e ex-servidores do alto escalão do INSS, beneficiados com dinheiro, bens de luxo e contratos suspeitos.

Segundo a PF, R$ 17 milhões foram repassados diretamente ou via empresas ligadas a ex-diretores do INSS. Um dos casos mais graves envolve o procurador Virgílio Oliveira Filho, afastado por decisão judicial, cuja esposa teria recebido um carro de luxo avaliado em mais de R$ 500 mil como benefício de uma das entidades investigadas.

Outro nome citado é o de André Paulo Félix Fidelis, ex-diretor de Benefícios do INSS. Pessoas e empresas ligadas a ele teriam recebido R$ 5,1 milhões das chamadas “empresas intermediárias”. Já Alexandre Guimarães, ex-diretor de Governança e Planejamento, aparece com um repasse de R$ 313 mil. Ambos alegam inocência. Guimarães afirma que o valor recebido é fruto de consultoria formal, com emissão de notas fiscais.

A peça-chave da operação, apelidado de “Careca do INSS”, é Antônio Carlos Camilo Antunes. Ele seria o operador financeiro entre as entidades sindicais e os servidores. A PF aponta que ele movimentou R$ 53,5 milhões, sendo R$ 48,1 milhões diretamente de associações e R$ 5,4 milhões de empresas ligadas a elas. Antunes, que se declara “gerente” com renda mensal de R$ 24 mil, apresentava movimentações bancárias bem superiores à sua renda declarada.

Entenda a origem do escândalo

O golpe só foi possível após uma mudança legal estratégica. Em 2019, o então presidente Jair Bolsonaro sancionou a MP 871/2019, exigindo que entidades sindicais revalidassem periodicamente a autorização dos filiados para realizar descontos em folha. Essa medida buscava justamente evitar fraudes e proteger aposentados.

Mas, em agosto de 2022, às vésperas da eleição, o Congresso — sob pressão de sindicatos e com apoio de parlamentares da esquerda — derrubou esse dispositivo, retirando a exigência de comprovação das autorizações. Com isso, milhões em descontos indevidos voltaram a acontecer sem qualquer controle efetivo.

A Operação Sem Desconto, deflagrada em abril de 2025, revelou que 64% de toda a fraude ocorreu já nos dois primeiros anos do governo Lula. De R$ 6,5 bilhões desviados entre 2019 e 2024, R$ 4,1 bilhões teriam sido desviados entre 2023 e 2024.

Além disso, entidades investigadas foram recebidas 15 vezes em audiências com o governo desde 2023, incluindo reuniões com o Ministério da Previdência Social e o próprio INSS.

O impacto sobre os aposentados

A maioria das vítimas são aposentados e pensionistas que, sem saber, tiveram valores descontados de seus benefícios para pagar contribuições a entidades que sequer autorizaram. Há relatos de idosos prejudicados sem sequer entender como ou por que os descontos foram aplicados.

O caso expõe um descaso institucional com a população mais vulnerável, além de demonstrar a influência política de entidades sindicais em decisões legislativas que resultaram em prejuízo direto à sociedade.

Redação Saiba+

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