Brasil
A dívida do Brasil fala mais alto e é assustadora
Apesar do discurso otimista do governo sobre a meta fiscal, os dados mostram uma escalada preocupante da dívida pública e dos gastos com juros
Enquanto o governo Lula comemora o cumprimento da meta fiscal e celebra o novo arcabouço, os números da dívida pública brasileira contam uma história diferente e alarmante.
Segundo projeções, a dívida bruta do país deve ultrapassar os R$ 10 trilhões já em 2026. Ainda mais preocupante é a previsão de que ainda este ano, o Brasil gastará cerca de R$ 1 trilhão apenas com o pagamento de juros, um valor inédito desde o início da série histórica do Banco Central, em 2001.
O endividamento público segue uma trajetória acelerada. Nos últimos dez anos, a dívida bruta mais que dobrou: passou de R$ 3,25 trilhões em 2014 para quase R$ 9 trilhões em 2023. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o salto foi de 56,28% para 76,50%. E a tendência é de alta: em 2028, a dívida poderá atingir R$ 11,3 trilhões, representando 89,27% do PIB, segundo estimativas do mercado financeiro coletadas pelo próprio Banco Central.
Embora o governo negue riscos de insolvência, analistas alertam: uma dívida tão elevada é extremamente cara e impõe sérias restrições ao crescimento econômico. De acordo com o BTG Pactual, apenas a Bolívia precisa captar mais recursos que o Brasil para refinanciar sua dívida — um reflexo da baixa credibilidade fiscal do país.
Esse cenário dificulta o controle da inflação e obriga o Banco Central a manter a taxa básica de juros em patamares altos por mais tempo, o que desestimula investimentos e trava o crescimento. É por isso que economistas cobram ajustes urgentes nas contas públicas, com a volta dos superávits primários como forma de conter o endividamento.
Apesar disso, o governo tem sinalizado pouca disposição para revisar gastos ou preservar a arrecadação. A reforma do Imposto de Renda foi deixada de lado em nome da isenção para quem ganha até R$ 5 mil. Programas sociais como o Pé-de-Meia e o Auxílio Gás seguem sem espaço orçamentário definido, e, ao mesmo tempo, o Executivo amplia o crédito e os subsídios habitacionais.
Na prática, o cenário é de contradição entre a política fiscal e a política monetária. Como disse Gabriel Galípolo, presidente do BC, “as doses do remédio têm que ser mais fortes” quando os canais de transmissão da política monetária estão obstruídos.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, já admitiu que o arcabouço fiscal precisará ser revisto — mas apenas após as eleições de 2026. Até lá, o desequilíbrio pode se agravar. E enquanto o governo insiste em discursos positivos, o mercado segue atento àquilo que realmente importa: a trajetória da dívida. Porque, no fim das contas, a dívida fala mais alto.