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BC sinaliza manutenção da Selic alta e cenário fiscal pressiona economia

Presidente do Banco Central diz que juros seguem elevados diante de incertezas globais, enquanto governo revisa para cima projeções de PIB, inflação e revela concentração recorde de renda com dividendos

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Banco Central - Divulgação

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (19) que há sentido em manter a taxa Selic em patamar elevado por mais tempo, diante das incertezas no cenário econômico global. A declaração foi feita durante o evento Annual Brazil Macro Conference, do banco Goldman Sachs, em São Paulo.

Atualmente, a Selic está em 14,75% ao ano, após seis aumentos consecutivos realizados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) desde setembro de 2024 — um ciclo que já soma alta de 4,25 pontos percentuais. É o maior patamar da taxa básica de juros desde 2006.

Segundo Galípolo, a autoridade monetária aguarda novos dados sobre inflação e atividade econômica antes de decidir os próximos passos. “O ambiente demanda cautela e flexibilidade”, afirmou. “Faz sentido que os juros fiquem em um patamar restritivo por mais tempo.”

O presidente do BC reforçou que o momento não permite previsões firmes, principalmente devido a instabilidades internacionais, como as novas tarifas comerciais adotadas pelo governo dos EUA, o que torna inviável, segundo ele, o uso do chamado forward guidance (orientação futura).

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante cerimônia no Banco Central, em Brasília – Ueslei Marcelino/Reuters

Governo revisa projeções para cima

No mesmo dia, o Ministério da Fazenda anunciou revisão nas projeções de crescimento econômico e inflação para 2025. A expectativa para o PIB subiu de 2,3% para 2,4%, e o IPCA, principal índice de inflação, passou de 4,9% para 5%.

A pasta liderada por Fernando Haddad apontou que a produção agropecuária será o principal motor do crescimento, com estimativa de expansão de 6,3%. A indústria deve crescer 2,2% e o setor de serviços, 2%.

Apesar disso, o segundo semestre deve apresentar desaceleração, conforme o mercado de trabalho e as concessões de crédito perdem fôlego. “O impulso do agronegócio deve compensar a perda de tração em outros setores”, diz o relatório do governo.


Lucros e dividendos batem recorde e escancaram desigualdade

Dados da Receita Federal revelam que os rendimentos com lucros e dividendos atingiram quase R$ 1 trilhão em 2023, dos quais 47% ficaram concentrados nas mãos de apenas 160 mil pessoas — o equivalente a 0,1% mais rico da população.

Um único cidadão paulista declarou ter recebido R$ 5,1 bilhões em dividendos no ano passado. O montante total distribuído subiu R$ 129 bilhões em relação a 2022.

Esse movimento reacende o debate sobre a tributação de dividendos, hoje isentos, no contexto da reforma do Imposto de Renda que será discutida na Câmara dos Deputados. A proposta prevê tributar em 10% os dividendos pagos ao exterior e estabelecer um imposto mínimo sobre milionários a partir de 2026.

Estudo do Ipea aponta que 12,5% da renda disponível das famílias brasileiras em 2023 estava concentrada no 0,1% mais rico, o maior patamar desde que os dados do IRPF passaram a ser divulgados.

Segundo o economista Sérgio Gobetti, a desigualdade segue elevada, mesmo com melhorias na distribuição da renda do trabalho apontadas pela PNAD. “Esses dados são fundamentais para embasar uma tributação mais justa e progressiva no país”, afirmou.

Redação Saiba+

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