Brasil
Bolsonaro defende anistia, provoca Moraes e diz que não fugirá: “Sou um espinho na garganta deles”
Diante de milhares de apoiadores que lotaram ao menos três quadras da Avenida Paulista neste domingo (6), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a defender a anistia para os presos dos atos de 8 de janeiro e elevou o tom contra o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente contra o ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos relacionados aos atos.
Durante seu discurso, Bolsonaro chegou a falar em inglês “Amnesty now!”, numa tentativa de internacionalizar o debate e chamar atenção para o que considera “injustiças” nos julgamentos. Ele citou casos de condenações envolvendo pessoas sem antecedentes criminais, como vendedores ambulantes, além da cabeleireira Débora Rodrigues, que ficou presa por dois anos após pichar com batom a frase “perdeu, mané” na estátua da Justiça, em frente ao STF.
“O que eles querem não é me prender, é me matar. Porque eu sou um espinho na garganta deles. Eu mostrei pra vocês que o Brasil tem jeito”, disse Bolsonaro, que recentemente se tornou réu no STF por tentativa de golpe de Estado e outros crimes. Ele também afirmou que não fugirá do país, e que cumprirá o juramento de “defender a pátria, mesmo com o sacrifício da própria vida”.
Bolsonaro na Avenida Paulista, 6 de abril | Foto: Reprodução
Provocações ao STF e crítica à seletividade
Ao abordar o caso de Débora Rodrigues, Bolsonaro classificou como absurda a possível condenação da cabeleireira a 14 anos de prisão. “Só um psicopata para falar que aquilo foi uma tentativa armada de golpe militar”, disse. Ele também provocou o ministro Alexandre de Moraes, ao questionar o uso de avião da FAB para assistir a um jogo do Corinthians, em São Paulo.
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também comentou o caso de Débora, destacando a desproporcionalidade da pena sugerida. “A pena para esse tipo de pichação varia de três meses a um ano, e a multa de R$ 800 a R$ 10 mil. A Débora pode pegar 14 anos e R$ 30 milhões. Isso é inaceitável”, afirmou.
O batom, usado por Débora na pichação, virou símbolo da manifestação: foi estampado em cartazes, faixas e balões espalhados pela Avenida Paulista.
Mobilização pela anistia no Congresso
A manifestação teve como objetivo principal pressionar o Congresso Nacional a votar o projeto de lei que concede anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. O deputado federal Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), líder do PL na Câmara, anunciou que a partir de segunda-feira (7) serão divulgados os nomes e fotos dos parlamentares que já assinaram o requerimento de urgência para a tramitação do projeto. Segundo ele, a meta é alcançar 257 assinaturas até quarta-feira (10).
Apoiadores de Jair Bolsonaro se concentram na Avenida Paulista neste domingo (6) em ato por anistiaFoto: AFP or licensors
O senador Rogério Marinho (PL-RN) reforçou que a prerrogativa de conceder anistia é exclusiva do Congresso. “Não pertence ao STF, nem ao presidente da República, nem à imprensa. É do povo brasileiro, representado pelo Legislativo”, declarou.
Apoio de governadores fortalece movimento
A manifestação contou com a presença de sete governadores de diferentes partidos, fortalecendo a articulação da direita em torno da pauta da anistia: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Jr. (PSD-PR), Jorginho Mello (PL-SC), Wilson Lima (União-AM), Mauro Mendes (União-MT) e Ronaldo Caiado (União-GO). Uma foto publicada nas redes sociais com todos os governadores ao lado de Bolsonaro ganhou repercussão nacional e reacendeu especulações sobre uma frente ampla de centro-direita para 2026.
(Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)
Análise: reconfiguração da oposição?
A presença de líderes do PL, União Brasil, PSD, Republicanos e Novo no mesmo palanque aponta para uma possível reorganização do campo oposicionista. Em meio à insatisfação de parte do Centrão com a falta de espaço no governo Lula, cresce a expectativa de que uma eventual candidatura de Bolsonaro ou de outro nome da direita possa aglutinar apoios em troca de maior protagonismo político.
A manifestação na Paulista marcou o quinto ato público de grande escala promovido por Bolsonaro desde que deixou a Presidência, mas o primeiro desde que se tornou réu no STF. A expectativa da oposição é que, com a pressão popular, o PL da Anistia possa avançar no Congresso ainda neste semestre.