Brasil

Tarifaço de Trump já trava fusões e aquisições no Brasil

Empresas interrompem negociações que transformariam o Brasil em polo exportador; incertezas cambiais e políticas afastam investidores internacionais

Publicado

em

Operações que pretendiam fazer do Brasil polo de exportação estão entre as mais afetadas Foto: Porto de Itapoá/Divulgação

O tarifaço anunciado por Donald Trump começa a afetar diretamente o ambiente de negócios no Brasil. Mais do que prejuízos nas exportações, a política protecionista dos Estados Unidos já provoca a suspensão de operações de fusões e aquisições (M&A), especialmente daquelas que visavam transformar o Brasil em plataforma de exportação para o mercado norte-americano.

De acordo com especialistas, negócios em setores dependentes de exportação ou de insumos importados estão sendo temporariamente interrompidos ou redesenhados. “Alguns clientes voltaram à mesa de negociação para rever projetos. Se a nova tarifa inviabilizar a planta voltada aos EUA, a tendência é abandonar o negócio”, afirma Isabela Xavier, sócia do escritório de advocacia BVA.

No caso de uma negociação entre um grupo europeu e uma empresa brasileira de equipamentos industriais, o plano era converter a produção nacional em foco exportador. O projeto foi imediatamente suspenso após a sinalização do tarifaço em julho e segue paralisado.

Na consultoria Brasilpar, especializada em M&A de empresas médias, ao menos duas operações com foco em exportações também entraram em compasso de espera. “O Brasil estava praticamente sozinho na festa das aquisições internacionais. Agora, projetos voltados à exportação estão congelados”, diz Tom Waslander, sócio da empresa.

Waslander relata que uma operação com um comprador norte-americano do setor de autopeças foi interrompida, e que a retomada da negociação só deve ocorrer em 2026. Apesar disso, ele ressalta que o interesse pelo mercado brasileiro permanece elevado: “Muitos ativos continuam baratos e o mercado interno segue atrativo para estrangeiros.”

No primeiro semestre, a Brasilpar concluiu transações relevantes, como a compra da Reframax pela japonesa Shinagawa Refractories e da SMX pela espanhola Tiba. O mercado interno ainda sustenta diversas oportunidades, mas a incerteza externa tem barrado operações com foco nos Estados Unidos.

Cenário macroeconômico e câmbio preocupam

Além dos entraves nas exportações, os efeitos cambiais gerados pela instabilidade também têm preocupado analistas. Para Daniel Wainstein, sócio-fundador da Sêneca Evercore, “se houver desvalorização do real, o Banco Central será pressionado a subir os juros para conter a inflação”. Isso pode sufocar ainda mais empresas já fragilizadas.

Wainstein avalia que, diante das incertezas, o melhor é não acelerar os processos de venda. “Negócios em andamento precisam ser conduzidos com calma para não espantar investidores ou matar o projeto”, diz. Ele destaca que, embora setores como energia, infraestrutura e serviços financeiros mantenham atratividade, fundos de private equity — essenciais para o mercado de M&A — também têm adotado postura cautelosa.

Segundo ele, com o risco de retorno em dólar menor devido à possível desvalorização cambial, os fundos internacionais tendem a postergar decisões. “São dois bolsos grandes — das empresas e dos fundos — que, por ora, estão fechados”, conclui.

Redação Saiba+

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais Lidas da Semana

Sair da versão mobile