Bahia
Facções obrigam moradores a deixar portas destrancadas em Salvador
Comandantes do tráfico impõem que casas fiquem com portas abertas para fugitivos — 19 famílias já foram feitas reféns só neste ano
Em localidades de Salvador sob forte domínio de facções criminosas, os moradores são obrigados a manter portas abertas mesmo durante a noite e madrugada. Essa exigência facilita a entrada de traficantes em fuga, transformando residências em refúgios improvisados durante perseguições policiais.
Moradores relatam cenas chocantes, como casos no Engenho Velho da Federação, onde traficantes armados entram nas casas mandando as pessoas “calar a boca” enquanto fogem da polícia:
“Eu morava na região do Campo do Areal, já entraram na minha casa… Me saí de lá por isso”, diz um morador que precisou mudar-se por insegurança.
Apesar dos esforços para vender seu imóvel, muitos enfrentam dificuldade em encontrar compradores dispostos a viver em áreas controladas pelo tráfico. Um policial com mais de 15 anos de atuação em Salvador confirma que “o suspeito entra na casa, mas a polícia não pode entrar; ele some”, em referência a criminosos que escapam literalmente pela casa das vítimas.
Outro agente explica que os criminosos usam a invasão de moradias para dois fins principais: fugir escondidos ou usar moradores como reféns.
Segundo levantamento do jornal Correio, somente este ano, 19 famílias foram feitas de reféns em residências durante fuga de traficantes, em diferentes bairros da cidade. Felizmente, graças à negociação da polícia, todos foram libertados sem ferimentos graves.
Para o coronel da reserva Antônio Jorge Melo, isso caracteriza o uso da população local como “escudo humano”.
“Esses criminosos se protegem na comunidade… Fazem moradores reféns como garantia de que sairão ilesos”, explica.
Outra tática cruel mencionada por ele é a exposição de crianças e jovens vestidos de farda escolar nas ruas, utilizada para desacelerar ações policiais e dificultar incursões das forças de segurança.
“Elas reduzem o ritmo dos policiais durante uma incursão”, alerta o coronel.
