Polícia
Empresa do ‘Rei do Lixo’ movimentou R$ 861 milhões em transações atípicas, aponta Coaf
A MM Consultoria Construções e Serviços LTDA, pertencente ao empresário José Marcos Moura, conhecido como o “Rei do Lixo”, movimentou cerca de R$ 861,4 milhões em operações consideradas atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). A informação consta de relatório da Polícia Federal no âmbito da Operação Overclean, que investiga um suposto esquema de desvio de emendas parlamentares por meio de contratos fraudulentos com prefeituras em diversos estados.
De acordo com as investigações, a empresa foi usada para realizar pagamentos de despesas pessoais de terceiros, incluindo agentes públicos, além de transferências bancárias de alto valor sem justificativa econômica plausível.
“A estrutura financeira da empresa é incompatível com sua atividade declarada”, aponta a PF em relatório.
O banco responsável pelas contas da MM Consultoria realizou diversas comunicações ao Coaf, destacando movimentações incompatíveis com o faturamento declarado, saques em espécie e transferências fracionadas. A Polícia Federal afirma que não há evidências claras de prestação dos serviços contratados pelas prefeituras, especialmente na Bahia, onde a empresa teria recebido pagamentos milionários.
Entre os pontos mais sensíveis da investigação estão duas transações específicas. Em uma delas, R$ 435 mil foram transferidos a uma autoridade com foro privilegiado, sem justificativa aparente. A identidade dessa autoridade, no entanto, não foi revelada no relatório da PF. Em outro episódio, um imóvel avaliado em R$ 1,2 milhão teria sido adquirido por R$ 8 milhões, o que também levanta suspeitas sobre tentativa de ocultação patrimonial.
Além da empresa, as contas pessoais de José Marcos Moura também estão sob escrutínio. Ele teria movimentado cerca de R$ 80,2 milhões em transações consideradas suspeitas. Os investigadores apontam que o empresário foi beneficiado com pagamentos de boletos, títulos bancários e realizou investimentos e saques incompatíveis com sua renda declarada.
Descrito como peça-chave do “núcleo central” da organização investigada, Moura é considerado pela Polícia Federal como um influente operador político com amplo trânsito em prefeituras baianas e de outros estados. Segundo o relatório, ele teria interferido, inclusive, em nomeações na Prefeitura de Belo Horizonte.
José Marcos Moura chegou a ser preso durante as investigações, mas atualmente responde em liberdade por força de um habeas corpus. Na terceira fase da Operação Overclean, foi novamente alvo de mandados de busca e apreensão. A PF chegou a solicitar nova ordem de prisão, mas o pedido foi negado pelo ministro Kassio Nunes Marques, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).