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Escolas públicas seguem desconectadas da realidade digital

Apesar das promessas do governo federal, dados inflados escondem a dura realidade de milhares de escolas sem acesso adequado à internet, impactando diretamente o futuro da educação brasileira.

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Foto: freepik.com

Em um país onde a educação de qualidade é constantemente apontada como a chave para o desenvolvimento, a realidade das escolas públicas brasileiras revela um cenário alarmante: falta o básico para garantir o ensino pleno. Entre as carências, a ausência de internet de qualidade nas instituições de ensino é uma das mais graves — e compromete seriamente o futuro de milhões de estudantes.

Quando o governo lançou, em setembro de 2023, a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu revolucionar o acesso à internet nas escolas públicas. O plano, de fato, é ambicioso: conectar todas as unidades até o fim de seu mandato, em 2026. No entanto, a execução prática da proposta está longe de alcançar os resultados divulgados oficialmente.

Recentemente, veio à tona que o Ministério da Educação (MEC) utiliza dados inflados para medir a qualidade da conexão escolar. Em vez de se basear no medidor oficial — como determina uma resolução do Comitê Executivo da Estratégia Nacional — o governo opta, em muitos casos, por confiar em informações repassadas por secretarias estaduais e municipais. Esse método mascarou uma dura realidade: 15.404 escolas consideradas conectadas, na verdade, operam abaixo dos níveis aceitáveis de velocidade de internet.

A discrepância nos números é gritante:

  • Segundo a medição oficial, apenas 49,2% das 137,9 mil escolas públicas do país possuem internet com velocidade adequada.
  • 36,1% das instituições apresentam conexão ruim ou insuficiente.
  • No levantamento do MEC, no entanto, os números são diferentes: 60% teriam internet adequada e apenas 25% estariam em condição ruim.

Improvisos e dificuldades no cotidiano escolar

O impacto da falta de conectividade nas escolas é profundo e imediato. Professores relatam dificuldades para utilizar recursos pedagógicos digitais, e estudantes precisam improvisar para realizar tarefas escolares. Em alguns casos, os jovens captam sinais de internet de estabelecimentos vizinhos — como lanchonetes — ou até mesmo sobem em cadeiras para tentar melhorar o sinal.

Situações como essas consomem a energia dos alunos, esgotam a paciência dos professores e aprofundam ainda mais a desigualdade educacional no Brasil. Estudantes que deveriam estar focados em aprender precisam, antes, resolver o problema mais básico: conseguir se conectar.

Pé-de-Meia: uma solução emergencial?

Outra face desse problema é a utilização dos recursos do programa Pé-de-Meia, que oferece bolsas para evitar a evasão escolar no ensino médio. Em vez de suprir necessidades educacionais diretas, parte do dinheiro recebido por estudantes é usada para contratar pacotes de dados móveis, visando garantir o acesso às atividades escolares básicas. Embora extrema, essa prática revela a gravidade do cenário.

Compromissos e realidade: o desafio do governo Lula

No discurso oficial, o governo afirma estar comprometido em transformar a infraestrutura das escolas e preparar o país para o futuro digital. No entanto, os dados reais indicam que a transformação será muito mais complexa do que prometido. A promessa de “escolas conectadas” precisa ser compreendida não apenas como presença física de equipamentos, mas também como acesso real, contínuo e de qualidade.

Sem conexão adequada, o uso de tecnologia em sala de aula se torna inviável. Recursos como plataformas educacionais, vídeos interativos e jogos pedagógicos ficam restritos, e o Brasil corre o risco de aumentar ainda mais a distância em relação a países que já investiram fortemente em educação digital, como as nações asiáticas.

Lições internacionais e o caminho para o futuro

A experiência de países que superaram desafios semelhantes mostra que é possível mudar essa realidade. Reformas educacionais de longo prazo, como adoção de currículos modernos, formação sólida de professores, escolas de tempo integral e avaliações constantes são parte da receita do sucesso. Além disso, a continuidade dos investimentos — sem interrupções políticas — é essencial.

Para o Brasil, não basta anunciar novos programas: é preciso medir resultados de forma transparente, enfrentar problemas estruturais e garantir que todas as escolas tenham, de fato, internet de qualidade.

Sem isso, o discurso da transformação educacional corre o risco de permanecer apenas no campo das promessas, enquanto a realidade nas salas de aula continua a depender de “puxadinhos” improvisados de sinal de wi-fi.

Redação Saiba+

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