Brasil
PF: 67% das vítimas de fraude no INSS são rurais
Investigações revelam que R$ 2,87 bilhões foram descontados indevidamente de aposentados rurais; Contag aparece como principal beneficiada no esquema.
Uma investigação da Polícia Federal (PF) em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU) revelou um esquema de fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com foco especialmente em aposentados da zona rural. De acordo com o inquérito, 67% dos beneficiários atingidos pelos descontos indevidos vivem em áreas rurais, totalizando prejuízo estimado em R$ 2,87 bilhões para essa parcela da população.
No total, entre janeiro de 2019 e março de 2024, foram descontados R$ 4,28 bilhões dos beneficiários do INSS sob a justificativa de mensalidades associativas. Desse montante, aproximadamente R$ 2,1 bilhões — quase metade do valor — foram destinados à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), apontada como principal beneficiária do esquema.
Ainda segundo a PF, os outros 33% das vítimas são aposentados do meio urbano, com descontos indevidos que somam R$ 1,41 bilhão. Em 186 municípios analisados, 19 cidades do Maranhão e do Piauí apresentaram índice igual ou superior a 60% de aposentados com descontos registrados em seus benefícios.
O relatório da PF destaca a vulnerabilidade dos aposentados rurais, que enfrentam obstáculos como falta de acesso à internet, dificuldades de locomoção e escassez de informação — fatores que dificultam a verificação e o cancelamento dos débitos não autorizados. Muitos sequer têm conhecimento sobre a existência dessas cobranças.
A denúncia teve repercussão imediata em Brasília. Cinco autoridades do INSS foram afastadas de seus cargos por suposto envolvimento no esquema. A pressão política resultou na renúncia do então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que entregou seu cargo na última sexta-feira (2).