Brasil
Compra de armas para CACs cai 91% com Lula, mas governo falha no controle de fuzis em 2025
Apesar da queda geral nas aquisições, número de fuzis volta a crescer neste ano e especialistas alertam para brechas na fiscalização e risco de desvios
A política de controle de armas do governo Lula (PT) provocou uma queda de 91% na compra de armamentos por CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) em relação ao último ano da gestão Bolsonaro. Em 2022, foram adquiridas 448.319 novas armas, enquanto em 2024 esse número caiu para 39.914, segundo dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) e analisados em parceria com o Instituto Sou da Paz.
Apesar da queda geral, o número de fuzis voltou a crescer em 2025. Apenas nos quatro primeiros meses do ano, foram adquiridos 1.248 fuzis — superando o total de 2024 (1.063 unidades). O dado preocupa especialistas em segurança, diante da retomada das categorias de CACs e da readequação dos limites de armamento.
A fiscalização sobre os CACs foi oficialmente transferida do Exército para a Polícia Federal em 1º de julho, com a transição completa prevista até o final de agosto. A PF já reorganizou suas estruturas para cumprir a nova atribuição e contratou profissionais terceirizados, enquanto aguarda reforço via concurso público.
Redução expressiva sob Lula
Sob o governo Lula, as regras para registro de armamentos foram endurecidas. Em 2023, as aquisições caíram para 176.870. Em 2024, houve nova redução para 39.914 armas — uma queda de 77% em relação ao ano anterior. Nos quatro primeiros meses de 2025, foram registradas 18.065 novas compras.
Durante o governo Bolsonaro, foram 932.551 armas registradas por CACs, com destaque para fuzis: 48.517. Já sob Lula, o número chega a 234.849 até abril, com 3.626 fuzis.
Segundo Bruno Langeani, consultor do Instituto Sou da Paz, a queda na aquisição reflete o impacto das exigências adotadas em 2023, como a diferenciação por categorias e a exigência de ficha limpa, ocupação lícita e avaliação psicológica.
“Mais do que reduzir os registros, é essencial garantir que os CACs estejam dentro das normas, especialmente em relação à idoneidade e uso legal das armas”, destacou Langeani.
Fuzis preocupam e irregularidades persistem
A retomada no registro de fuzis em 2025 acendeu o alerta. Especialistas defendem que a Polícia Federal monitore a distribuição e destino dos 48 mil fuzis adquiridos no governo anterior, especialmente porque muitos não foram recadastrados.
Cerca de 7.600 armas de uso restrito não passaram pelo processo completo de recadastramento na PF, o que representa aproximadamente 15% desse tipo de armamento. Segundo a Polícia Federal, 70 CACs com registro ativo já foram presos por diversos crimes em 2025.
“O objetivo não é caçar CACs, mas prestar um serviço ao cidadão e manter o controle permanente da legalidade”, disse o diretor da PF, Fabrício Schommer Kerber.
Desvios e criminalidade
Dados do Tribunal de Contas da União (TCU) revelam que 5.200 condenados conseguiram manter ou renovar registros como CACs, durante o governo anterior. Além disso, um levantamento no estado de São Paulo mostrou que 8% das armas apreendidas em ações criminosas pertenciam a CACs.
Para Roberto Uchôa, conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o simples controle sobre novas aquisições não basta:
“O grande desafio é gerir o vasto arsenal que já está nas mãos da população. O desvio para facções e o alto índice de homicídios com arma de fogo demonstram que a missão de controle está longe do fim.”
O programa de recompra de armas, prometido por Lula em 2023, ainda não saiu do papel. Segundo o Ministério da Justiça, o plano segue em análise técnica.
