Bahia
Henrique Carballal, ex-vereador do PT condenado por rachadinha, apoia mineradora acusada de crimes ambientais na Bahia
Presidente da estatal CBPM, Carballal intermedeia projeto bilionário da Brazil Iron, empresa inglesa já proibida de atuar em território quilombola e investigada por violações ambientais e sociais na Chapada Diamantina
A mineradora inglesa Brazil Iron, investigada por infrações ambientais e sociais em comunidades quilombolas da Chapada Diamantina, volta a atuar na Bahia com apoio da estatal CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral). O novo projeto bilionário, de US$ 5 bilhões (R$ 27,2 bilhões), deve abranger 430 km² entre os municípios de Abaíra, Piatã e Jussiape, onde a empresa já teve uma mina desativada por desmatamento ilegal, contaminação de nascentes e falta de licenciamento ambiental.
Mesmo proibida pela Justiça inglesa de contatar moradores das comunidades de Mocó e Bocaina, que moveram processo por danos ambientais no Reino Unido, a Brazil Iron conta com intermediação da CBPM — cujo presidente, Henrique Carballal, foi condenado por rachadinha quando era vereador de Salvador pelo PT.
Segundo Catarina Oliveira, presidente da associação quilombola da Bocaina, o retorno da mineradora ameaça repetir os impactos já sofridos:
“Eles só deixam destruição, grilagem de terras e problemas psicológicos. O prejuízo fica para a comunidade.”
Denúncias e investigação
Relatório do Inema apontou desmatamento de 50 hectares, descarte irregular de resíduos, erosão e contaminação de água e solo por metais pesados. A Universidade Federal da Bahia (Ufba) confirmou a poluição. A Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público da Bahia investigam o caso.
A empresa, que já investiu R$ 1,7 bilhão no novo projeto, promete 55 mil empregos e arrecadação de R$ 50 bilhões em impostos, além de utilizar hidrogênio verde e energia renovável para descarbonizar a cadeia da mineração.
Interferência do governo e tentativa de descaracterizar quilombo
Segundo moradores, o mediador da Casa Civil da Bahia, tenente-coronel Paulo Cézar Cabral, teria sugerido que o Cefir quilombola — documento que protege o território — poderia resultar na perda das casas da comunidade para a União. A declaração gerou reação do Ministério Público Federal, que acusou tentativa de desacreditar lideranças locais com informações falsas.
Apesar do histórico de impactos e conflitos, o governo da Bahia ainda não respondeu oficialmente sobre a mediação do Estado no novo empreendimento.
“Pedimos barragens de água há 20 anos e nunca fomos atendidos”, desabafa Catarina, que hoje cultiva apenas no quintal, após a roça de Mocó secar e ser contaminada.
Contradições do ‘progresso verde’
Para a Comissão Pastoral da Terra, a atuação da Brazil Iron ilustra o avanço de um modelo de desenvolvimento “verde” que ignora as comunidades tradicionais e repete velhos padrões de injustiça ambiental, agora com uma nova roupagem tecnológica.
