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Desgaste com Lula 3 cresce no Nordeste e ameaça hegemonia do PT

Frustração com promessas não cumpridas, alta nos preços e ausência de novas políticas sociais corroem popularidade do governo Lula na região que mais apoiou o petista em 2022.

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Luiz Inácio Lula da Silva discursa em Marcolândia, no Piauí, em 2017 - Bruno Santos

Dois anos e meio após o início do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, cresce a insatisfação entre eleitores do Nordeste — região onde o petista obteve as maiores votações em 2022. A promessa de retomada das conquistas sociais e da prosperidade popular, no entanto, não se concretizou para parte da população, que agora demonstra cansaço, frustração e até arrependimento com o atual governo.

É o caso do garçom Cleber Silva, de Salvador, que votou em Lula pela terceira vez acreditando que a vida melhoraria após a pandemia. “Meu dinheiro não dá para nada, só durmo com remédio por causa dos tiroteios. E cadê o Lula? Ele sumiu”, desabafa. Assim como ele, muitos nordestinos vêm mudando de opinião sobre o PT.

Cleber Silva, morador da Favela Vista Alegre: esperança com voto em Lula deu lugar a queixas — Foto: Rafael Martins

Segundo levantamento da Genial/Quaest, a popularidade de Lula caiu 13 pontos percentuais no Nordeste entre dezembro de 2023 e junho de 2024, ainda que a aprovação continue numericamente maior (54% a 44%).

Resultado eleitorais na região — Foto: Editoria de arte

Entre os principais motivos apontados para o desgaste estão:

  • A alta dos alimentos e dos itens básicos;
  • A chamada “taxa das blusinhas”, que gerou sensação de perda de poder de compra;
  • A crise do INSS, marcada por lentidão, escândalos e ausência de soluções;
  • A percepção de que o governo aumentou impostos, como o IOF, ao mesmo tempo em que não criou novos programas sociais relevantes;
  • O distanciamento de Lula das redes sociais e do contato direto com o eleitor.

A ausência de protagonismo nas redes, destaca o pesquisador Arthur Ituassu (PUC-RJ), contribui para que “respostas simplistas da oposição ganhem espaço”, enquanto o governo demora a reagir no campo da comunicação política.

Em Salvador, maior colégio eleitoral do Nordeste, entrevistas revelam o sentimento de decepção mesmo entre antigos apoiadores. Muitos ainda defendem Lula como o “menos pior”, mas sem o entusiasmo de outrora. Outros já declaram que pretendem mudar de lado nas próximas eleições ou mesmo anular o voto.

Para Giselle Improta, ex-trocadora de ônibus, “Lula sumiu do celular”, referindo-se à falta de presença digital. Ela diz que não vota mais no petista “nem a pau”. Já a comerciante Maria Aparecida dos Santos resume a insatisfação em termos mais amplos: “Bolsonaro mente, Lula decepcionou. Meu voto será nulo.”

O cenário reforça o alerta para o PT: a hegemonia construída nas últimas duas décadas não está garantida em 2026, especialmente diante de uma direita reorganizada e atenta ao vácuo deixado pelo governo.

Com um eleitorado mais crítico, conectado e insatisfeito com promessas não cumpridas, o Nordeste pode deixar de ser o “porto seguro” petista nas próximas eleições. A desilusão política e a busca por alternativas fora da polarização também desafiam a construção de novas lideranças e propostas viáveis.

Redação Saiba+

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