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Crise com Trump acirra tensão no Brasil e levanta suspeitas sobre lucro com informação privilegiada

AGU aciona PF e CVM após movimentações suspeitas no mercado financeiro durante anúncio de sobretaxa dos EUA; tarifa de Trump impacta agro, pressiona governo Lula e expõe bônus bilionário na AGU

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump

A crise deflagrada com o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de uma sobretaxa de 50% a produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, abriu uma nova frente de instabilidade no Brasil, tanto no plano econômico quanto político. Em meio à tensão diplomática, a AGU (Advocacia-Geral da União) solicitou investigações da Polícia Federal e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre possível uso de informação privilegiada por investidores que lucraram com a oscilação do dólar antes e depois do anúncio da medida.

Segundo denúncia veiculada pelo Jornal Nacional, o volume abrupto de compras de dólares — entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões — horas antes do tarifaço ser revelado por Trump, e a posterior venda com valorização da moeda, levantaram suspeitas de manipulação de mercado e crime de insider trading.

O dólar já acumula alta de 2,6% desde o anúncio de Trump, que associou a sobretaxa ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo STF, acusando o Brasil de perseguição política. “Foi um presidente respeitado. O que estão fazendo é uma caça às bruxas”, afirmou o norte-americano.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu duramente em cadeia nacional, qualificando a sobretaxa como “chantagem inaceitável”. Ele também acusou políticos alinhados a Trump e Bolsonaro de agirem contra os interesses do país, chamando-os de “traidores da pátria”.

A crise escalou quando, poucos dias após o anúncio da sobretaxa, o STF determinou operação da Polícia Federal contra Jair Bolsonaro, com imposição de tornozeleira eletrônica, o que elevou o tom da retórica de aliados de Trump no Brasil.

Enquanto isso, a bancada ruralista se vê pressionada, dividida entre o pragmatismo comercial e o alinhamento ideológico. A Lei da Reciprocidade, aprovada em abril com apoio unânime da bancada e do governo Lula, prevê retaliações equivalentes a medidas comerciais hostis — mas agora, o setor agro teme represálias mais severas dos EUA, caso o Brasil reaja com sanções.

Apesar da tensão, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirma que o episódio não deve comprometer as negociações comerciais e reforçou que “a soberania do país é inegociável”.


Honorários bilionários e bônus à AGU também entram na mira
Em paralelo à crise internacional, a remuneração de membros da AGU voltou a ser alvo de críticas após reportagens revelarem pagamentos milionários de honorários advocatícios provenientes de acordos de transações tributárias.

Em 2023, essas transações renderam R$ 34,1 bilhões à União, e R$ 3,73 bilhões em bônus para membros da AGU — um crescimento vertiginoso comparado a 2020, quando os valores não passavam de R$ 1 bilhão. Só em janeiro deste ano, foram distribuídos R$ 1,7 bilhão, com casos isolados de advogados recebendo mais de R$ 500 mil em um único mês.

O chefe da AGU (Advogado-Geral da União), Jorge Messias, que recebeu R$ 193 mil em honorários fora do teto em janeiro – Adriano Machado – 1º.jul.25/Reuters

Com a popularização dos acordos tributários como ferramenta para alcançar metas fiscais, o modelo de distribuição dos bônus levanta questionamentos sobre sua compatibilidade com o teto do funcionalismo público e a falta de transparência nos repasses.


Agronegócio dividido: apoio político ou perdas bilionárias?
A sobretaxa de Trump expõe um impasse: o agronegócio brasileiro, tradicional aliado de Bolsonaro, agora se vê como alvo direto das tensões ideológicas. O setor debate se deve manter o apoio político ou adotar um discurso mais técnico e diplomático para evitar perdas estimadas em bilhões.

Entidades como a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) pedem diálogo e “diplomacia afiada” para conter o impacto das tarifas. Já a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) critica o radicalismo político, afirmando que a economia “não pode ser refém de narrativas ideológicas”.

Diante da pressão, o governo brasileiro articula junto aos EUA um adiamento de 90 dias na entrada em vigor das tarifas, com o objetivo de buscar uma solução negociada.


A crise entre Brasil e Estados Unidos, impulsionada pela disputa geopolítica e os desdobramentos internos da política brasileira, escancara a fragilidade do equilíbrio entre pragmatismo econômico e polarização ideológica. A resposta a Trump, os impactos no agro e a transparência na máquina pública serão temas centrais no debate eleitoral e diplomático dos próximos meses.

Redação Saiba+

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