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Tarifaço de Trump entra em vigor e eleva tensão comercial com o Brasil

Taxa de 50% sobre exportações brasileiras aos EUA começa a valer nesta quarta-feira; governo Lula promete plano de contingência para setores afetados

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Trump anunciou tarifas mais altas para dezenas de países Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

A partir desta quarta-feira, 6 de agosto, produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos passam a pagar tarifa de 50%, conforme determinação do governo americano. A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump em julho, entrou em vigor à 0h01 no horário de Washington (1h01 em Brasília) e impacta quase todas as exportações do Brasil, com exceção de 694 itens listados previamente, que continuarão sendo taxados em 10%.

O Brasil é o primeiro país a ser atingido pela nova política tarifária americana, que se estenderá a outras nações a partir de quinta-feira, 7, como Japão, Coreia do Sul e países da União Europeia, embora nenhuma delas enfrente alíquota tão alta quanto a brasileira.

Apesar do argumento oficial de Trump ser o de reequilibrar a balança comercial americana, analistas apontam motivações políticas no caso do Brasil. O presidente americano afirmou que a taxação é uma resposta à “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe.

Desde 2009, a balança comercial Brasil-EUA tem sido favorável aos americanos, o que enfraquece a tese econômica para a sanção. Só no primeiro semestre deste ano, os EUA registraram um superávit de US$ 1,674 bilhão no comércio com o Brasil.


Impacto na economia brasileira

Estudos apontam que o efeito do tarifaço sobre o PIB brasileiro será limitado, embora significativo. O banco UBS BB projeta uma perda de até 0,6 ponto percentual, enquanto o Goldman Sachs estima um impacto de 0,25 ponto. Isso porque cerca de 74% das exportações afetadas podem ser redirecionadas a outros mercados, sobretudo commodities agrícolas.

Por outro lado, empresas que dependem diretamente do mercado americano devem sentir fortemente os efeitos. Em Curiúva (PR), a fabricante Depinus demitiu 23 dos seus 50 funcionários após suspender suas exportações para os EUA, que representavam 90% da produção. O proprietário, Paulo Bot, afirmou que espera reverter a situação caso as tarifas sejam revistas nas próximas semanas.


Governo prepara resposta

Diante do impacto imediato em setores específicos, o governo federal prepara um plano de contingência. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adiantou que a proposta inclui compras públicas e créditos subsidiados para empresas afetadas.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregou ao vice-presidente Geraldo Alckmin um documento com oito pedidos do setor industrial, incluindo uma linha de crédito com juros entre 1% e 4% via BNDES, ampliação de prazos cambiais e até a reativação de programas emergenciais como o PPE (Programa de Proteção ao Emprego).

O presidente Lula declarou nesta terça-feira, 5, que o Brasil buscará inclusive ações na OMC (Organização Mundial do Comércio), apesar de saber que Trump ignora a instituição. O presidente brasileiro também afirmou que não ligará para Trump para negociar diretamente, mas pretende convidá-lo para a COP, evento climático da ONU.


Perspectivas

A curto prazo, as pequenas e médias empresas exportadoras são as mais vulneráveis. Sem margem para suportar perdas ou redirecionar suas vendas, tendem a sofrer mais com a nova realidade. A depender do tempo de vigência da tarifa, os efeitos podem se espalhar por toda a cadeia produtiva exportadora.

Enquanto isso, o setor industrial aguarda definição das medidas de apoio do governo. A expectativa é que haja rapidez na implementação para evitar demissões em massa e garantir a sobrevivência de empresas cuja produção está fortemente atrelada ao mercado americano.

Redação Saiba+

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