Brasil
Banco Master pode ser desmembrado em seis partes, caso operação seja aprovada pelo BC
Venda de 58% para o BRB abre caminho para divisão de ativos entre BTG, J&F, antigos sócios e suporte do FGC
O Banco Master pode ser dividido em até seis partes, caso o Banco Central (BC) dê aval à operação de venda de 58% da instituição para o Banco de Brasília (BRB). De acordo com fontes próximas às negociações, a reestruturação envolveria uma complexa engenharia financeira, com ativos distribuídos entre grandes players do mercado e antigos sócios da instituição.
Além da fatia que irá para o BRB, outros ativos seriam adquiridos pelo BTG Pactual e pelo grupo J&F. Já os sócios Augusto Lima e Maurício Quadrado assumiriam subsidiárias que antes faziam parte do conglomerado, como o Banco Voiter (que passará a se chamar Banco Pleno) e o Letsbank (renomeado como Bluebank).
Os ativos que não despertaram interesse no mercado ficariam sob responsabilidade do banqueiro Daniel Vorcaro, controlador do Master, mas com suporte do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para assegurar a cobertura dos CDBs até R$ 250 mil por CPF.
Segundo especialistas, o BC avalia o impacto da operação sobre a solidez do sistema financeiro. A autoridade monetária exige garantias de que a linha de liquidez negociada com o Master será cumprida e impôs restrições, como a proibição de captar recursos a juros superiores aos acordados com o FGC.
Como ficaria a divisão do Banco Master
- BRB: R$ 23,9 bilhões em créditos, câmbio e Willbank
- BTG: precatórios, direitos creditórios e participações em empresas
- J&F: seguradora Kovr e fatia na Oncoclínicas
- Maurício Quadrado: Letsbank (Bluebank)
- Augusto Lima: Banco Voiter (Banco Pleno)
- Daniel Vorcaro: ativos remanescentes com suporte do FGC
CDBs e risco para investidores
Na proposta em estudo, os CDBs superiores a R$ 250 mil, que não contam com garantia do FGC, migrariam para o BRB, junto com letras financeiras vendidas a fundos de pensão. Já os CDBs até R$ 250 mil por CPF, com garantia do FGC, permaneceriam com Vorcaro e com a estrutura do Master original.
O BC analisa os documentos desde março de 2024, mas a documentação final só foi entregue em agosto, abrindo prazo de até 365 dias para decisão. O Master já teria recebido suporte financeiro do FGC entre R$ 1 bilhão e R$ 4 bilhões, e uma nova linha acima de R$ 10 bilhões pode ser necessária para garantir a liquidez.
Valor dos ativos em dúvida
Um dos pontos mais delicados é a avaliação real dos ativos do banco. O caso da Oncoclínicas é emblemático: comprada pelo Master em 2024 por R$ 1,5 bilhão, hoje sua participação vale apenas R$ 350 milhões, uma queda de 77%. Essa diferença pode abrir um rombo nos balanços e comprometer o pagamento de credores.
Investigações em andamento
Além da análise do BC, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) apontou que o Master investiu R$ 2,1 bilhões em empresas sem capacidade econômica de retorno, levantando suspeitas sobre a gestão. Deputados do PT pediram à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar eventuais crimes financeiros relacionados ao caso.
Se confirmada, a cisão do Banco Master será uma das operações mais complexas do sistema financeiro recente, com impacto direto sobre investidores, reguladores e credores.
