Política
Bolsonaro e Lula: paralelos e contrastes nos julgamentos no STF
Ex-presidentes enfrentam acusações distintas, mas ambos sustentam discurso de perseguição política e mobilizam aliados no exterior
Os caminhos jurídicos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se cruzam em um espelho de narrativas políticas. Apesar de responderem por crimes diferentes em momentos distintos, ambos recorreram ao discurso de lawfare — perseguição judicial com fins políticos — para mobilizar suas bases e tentar legitimar a própria defesa.
A partir do dia 2, o Supremo Tribunal Federal (STF) julga Bolsonaro no caso da trama golpista, em que o ex-presidente é acusado de tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. Já Lula, entre 2017 e 2019, enfrentou a Operação Lava Jato, com condenações que mais tarde foram anuladas pela corte, após o reconhecimento da parcialidade do então juiz Sergio Moro.
Cristiano Zanin, hoje ministro do STF, foi o principal defensor de Lula na Lava Jato, enquanto Celso Vilardi assume papel semelhante na defesa de Bolsonaro. Ambos utilizam o argumento de que seus clientes foram alvos de um processo judicial conduzido com motivação política.
Julgamentos em contextos diferentes
Na Lava Jato, Lula foi condenado por Moro em 2017 e preso em 2018, quando liderava as pesquisas presidenciais. A narrativa petista sustentava que o processo visava retirá-lo da disputa eleitoral. Em 2021, o STF anulou todas as condenações e considerou Moro parcial.
No caso de Bolsonaro, o julgamento segue em foro privilegiado, mesmo após deixar a presidência, por decisão do próprio Supremo em março de 2025. A defesa questionou a atuação do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, mas o pedido de impedimento foi rejeitado.
Especialistas, como o procurador e jurista Roberto Livianu, avaliam que as acusações contra Bolsonaro são mais graves que as de Lula: “O crime contra a ordem democrática é uma fratura social de dificílima reparação, que lesa a sociedade como um todo.”
Segurança e repercussão política
Assim como em 2017, quando Curitiba foi palco de fortes medidas de segurança durante depoimento de Lula, Brasília reforça o esquema em torno do STF. Agentes ocupam a Praça dos Três Poderes para evitar protestos e novos acampamentos.
Para seus aliados, Bolsonaro tenta repetir a estratégia de Lula em 2018: lançar-se como candidato e, em caso de inelegibilidade, transferir sua força eleitoral a um sucessor. A diferença, segundo a cientista política Juliana Fratini, é que “Lula já havia preparado Fernando Haddad como herdeiro político, enquanto Bolsonaro ainda não definiu quem conduzirá o bolsonarismo sem ele”.
Disputa internacional
Os dois ex-presidentes também buscaram respaldo no exterior. Lula acionou organismos internacionais e teve reconhecida pela ONU a violação de seus direitos políticos. Já Bolsonaro contou com apoio de Eduardo Bolsonaro e Donald Trump, que chegaram a pressionar contra o ministro Moraes, inclusive com sanções comerciais.
Em áudios apreendidos pela Polícia Federal, Bolsonaro condicionou a retirada das tarifas impostas pelos EUA à aprovação da anistia no Congresso: “Resolveu a anistia, resolveu tudo. Não resolveu, já era.”
Para o ex-ministro petista José Eduardo Cardozo, a diferença é clara: “No exterior fomos dar palestras e acionar organismos internacionais, não pedir que Estados estrangeiros aplicassem sanções contra o Brasil.”
