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Citação nazista em post da PM-BA expõe contradições e racismo estrutural na base da corporação

Após repercussão negativa, Academia da Polícia Militar apagou publicação com frase de general de Hitler.

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A publicação de uma frase do general nazista Erwin Rommel pela Academia da Polícia Militar da Bahia, na última quarta-feira (7), gerou indignação nas redes sociais e culminou em um pedido oficial de desculpas por parte da corporação. A citação — “Suor poupa sangue, sangue poupa vida, e cérebros poupam ambos” —, atribuída ao militar da Alemanha de Hitler, apareceu no “pensamento do dia” divulgado pelo perfil institucional da academia, responsável por formar oficiais da PM-BA.

Nazista Erwin Rommel / Reprodução

Diante da repercussão negativa, o post foi rapidamente apagado e substituído por uma mensagem de Madre Teresa de Calcutá. Em nota, a Polícia Militar da Bahia repudiou o conteúdo e afirmou que já adotou as providências administrativas cabíveis. O comando também destacou que “qualquer manifestação em desacordo com os princípios democráticos e constitucionais não representa o pensamento institucional”.

O caso, no entanto, abre espaço para uma reflexão mais profunda. A escolha de exaltar um militar do regime nazista não pode ser tratada como apenas um “erro isolado”, principalmente em uma instituição cuja tropa é composta, em sua maioria, por homens negros oriundos das camadas populares. Segundo levantamentos extraoficiais, estima-se que cerca de 80% do efetivo da PM na Bahia seja composto por negros. Como conciliar esse dado com a disseminação de um pensamento oriundo de um regime que exterminou milhões e se baseava na supremacia racial?

Quando os nazistas chegaram ao poder em 1933, milhares de pessoas negras  viviam na Alemanha. O regime nazista as assediava e perseguia porque as consideravam racialmente inferiores. Embora não houvesse um programa de extermínio centralizado e sistemático dirigido contra pessoas negras, muitas delas foram presas, esterilizadas à força e assassinadas pelos nazistas. / Reprodução

Mais do que um equívoco pontual, o episódio evidencia um tipo de contradição que está na base da formação de muitos agentes públicos: o racismo estrutural que permeia discursos, decisões e olhares — inclusive no ambiente policial.

Não à toa, a repercussão da frase nazista se soma a outras situações alarmantes, como o caso recente do soldado J. França, policial militar da própria Bahia, acusado de envolvimento na Operação Falsas Promessas, foi “reconhecido” apenas pela cor da pele e pela camiseta preta que usava em um vídeo de baixa qualidade.

Na decisão judicial que autorizou medidas contra o PM, a “prova” visual foi considerada suficiente — ignorando traços físicos e morfológicos incompatíveis com o verdadeiro autor da ação.

A suposição de que “todo preto se parece” saiu da boca do senso comum e entrou nos autos de um processo como se fosse uma análise técnica. O que sempre foi preconceito agora ganha verniz de legitimidade?

A sociedade brasileira vive hoje uma encruzilhada: ou enfrenta de forma transparente o racismo institucional, inclusive dentro das forças de segurança, ou continuará produzindo injustiças sob o manto da legalidade e da “neutralidade técnica”. O erro da academia da PM não é um caso isolado. É sintoma. E, como todo sintoma, exige diagnóstico e tratamento urgente.

Redação Saiba+

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