Política
Bolsonaro defende criação do Pix e se oferece para negociar com Trump
Ex-presidente diz que sistema de pagamentos foi ideia sua, critica tarifas americanas e afirma que Eduardo Bolsonaro é mais útil nos EUA do que no Brasil
Mesmo com o Pix idealizado no governo Temer, Jair Bolsonaro voltou a afirmar nesta quinta-feira (17) que a ferramenta foi criada em sua gestão, se colocando como o principal responsável pelo sistema. Em entrevista, o ex-presidente também se ofereceu para negociar pessoalmente com Donald Trump para tentar conter a imposição da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.
“O Pix tem nome: Jair Bolsonaro. Antes do Pix, você tinha um cartão. Os bancos perderam comigo, com o Pix mais TED e DOC, mais de R$ 20 bilhões. E eu não taxei o Pix”, declarou o ex-presidente.
Apesar da narrativa, o Pix começou a ser desenvolvido em 2018, no governo de Michel Temer, e só foi lançado oficialmente pelo Banco Central em novembro de 2020. Quando questionado pela primeira vez sobre a ferramenta naquele ano, Bolsonaro chegou a demonstrar desconhecimento sobre o que era o sistema.
Agora, diante da escalada nas tensões comerciais com os Estados Unidos, o ex-presidente atribui a criação do Pix ao impacto econômico que motivou a investigação americana contra o Brasil, e se coloca como peça-chave para conter a crise com Trump.
“Acho que teria sucesso uma audiência com o presidente Trump. Estou à disposição. Se me derem um passaporte, eu negocio”, afirmou Bolsonaro, que teve o documento retido em fevereiro pela Polícia Federal no inquérito sobre tentativa de golpe de Estado.
Eduardo Bolsonaro: “mais útil lá do que aqui”
Bolsonaro também elogiou a atuação do filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos desde março e articula junto ao governo Trump medidas contra o STF. Segundo o ex-presidente, Eduardo pode ser fundamental nas tratativas comerciais e até mesmo para obter uma anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro.
“Ele tem portas abertas no governo Trump, conhece dezenas de parlamentares e está trabalhando pela nossa liberdade. Ele é mais útil lá do que aqui”, afirmou.
A licença parlamentar de Eduardo termina neste domingo (20), e ele já sinalizou que abrirá mão do mandato na Câmara caso permaneça em território americano.
Críticas a Tarcísio e tensão diplomática
Bolsonaro disse ainda que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não conseguirá resolver a crise tarifária de forma isolada. “Louvo Tarcísio, mas ele não vai conseguir negociar com Trump sozinho. Isso é com o Brasil. E está na cara que Trump não vai ceder.”
O ex-presidente esteve no Senado na quinta-feira ao lado de parlamentares do PL, incluindo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
EUA abrem investigação formal contra o Brasil
A crise teve novo desdobramento nesta semana: o governo dos EUA formalizou a abertura de uma investigação contra o Brasil por supostas práticas comerciais discriminatórias. A investigação foi determinada por Trump e será publicada oficialmente no Federal Register nesta sexta-feira (18).
Segundo o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR), o processo se baseia na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 e terá uma audiência pública marcada para 3 de setembro.
Entre os motivos alegados estão:
- Tarifas preferenciais a países como Índia e México, excluindo os EUA;
- Altas taxas sobre o etanol americano, que despencou de US$ 761 milhões (2018) para US$ 53 milhões (2024);
- Uso de terras ilegalmente desmatadas por produtores brasileiros, o que daria vantagem injusta no comércio agrícola;
- Práticas de censura digital e enfraquecimento da liberdade de expressão, com base em decisões judiciais brasileiras;
- Demora excessiva na concessão de patentes farmacêuticas, chegando a quase 10 anos;
- Favorecimento ao Pix em detrimento de soluções estrangeiras, embora o sistema não tenha sido citado nominalmente.
O texto ainda critica a Rua 25 de Março, em São Paulo, como “um dos maiores centros de falsificação do mundo”, e acusa o Brasil de afrouxar o combate à corrupção e manter acordos opacos com empresas envolvidas em escândalos.
Anistia como moeda de troca?
Desde o anúncio das tarifas, Eduardo Bolsonaro passou a sugerir que Trump só recuaria mediante aprovação de uma anistia ampla aos envolvidos no 8 de Janeiro. Jair Bolsonaro reforçou a ideia, questionando:
“Vamos supor que ele queira anistia. É muito?”
Mesmo reconhecendo o impacto negativo das medidas impostas por Trump, Bolsonaro rejeita a responsabilidade:
“Eu sou o culpado? Ele está fazendo com o mundo todo. Todo mundo vai sofrer. Em especial, o mais pobre.”
Uma pesquisa Genial/Quaest divulgada na quarta-feira (16) mostra que 72% dos brasileiros consideram injusta a imposição de tarifas por parte dos EUA, mesmo diante das investigações contra Bolsonaro. Apenas 19% concordam com a medida.
