Brasil
Exportações de carne para os EUA despencam 80% em três meses
Sobretaxa de Trump pressiona indústria brasileira e ameaça relação comercial entre os dois países
As exportações de carne bovina brasileira para os Estados Unidos caíram 80% em apenas três meses, refletindo os efeitos das tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump e a iminente sobretaxa de 50%, que deve entrar em vigor a partir de 1º de agosto.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) compilados pela Abiec, o Brasil exportou 47,8 mil toneladas de carne para os EUA em abril, mês em que entrou em vigor uma tarifa adicional de 10%. Em junho, o volume já havia despencado para 18,2 mil toneladas e, agora em julho, chegou a apenas 9,7 mil toneladas.
Ao mesmo tempo, o preço da carne brasileira aumentou nos EUA: de US$ 5.200 por tonelada em abril para US$ 5.850 em julho, alta de 12%. A alta nos custos, somada à incerteza comercial, já causa impactos diretos, como a suspensão da produção de frigoríficos em Mato Grosso do Sul, que tinham os EUA como destino principal.
Nos bastidores, representantes do setor e membros do governo federal tentam convencer importadores americanos de que a sobretaxa tornará inviável a continuidade das transações. A expectativa é inserir a negociação em fases, mas o cenário permanece indefinido. Há ainda o agravante de que, segundo fontes, o governo americano teria condicionado concessões comerciais à revisão de processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no STF — o que politiza ainda mais o impasse.
Brasil já ultrapassou a cota anual com tarifa reduzida
O Brasil possui uma cota de 65 mil toneladas por ano com tarifa reduzida, mas já exportou 181,5 mil toneladas apenas entre janeiro e junho de 2025 — quase o triplo. Mesmo pagando tarifas maiores, a carne brasileira vinha sendo competitiva, até o aumento da taxação.
Hoje, os EUA são o segundo maior destino da carne brasileira, atrás apenas da China, e o Brasil lidera as exportações globais para os americanos, à frente de países como Austrália e Nova Zelândia. No primeiro semestre de 2025, o setor faturou US$ 1,04 bilhão com os EUA, um crescimento de 102% em valor e 112% em volume em comparação com 2024.
Porém, com a entrada em vigor da sobretaxa de 50%, o custo do produto tende a inviabilizar o comércio, pois ficará menos competitivo frente a exportadores como Canadá e Argentina.
Enquanto isso, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que comanda as negociações, tem apostado no apoio de setores produtivos para frear a medida americana. A estratégia passa por reuniões com líderes do agronegócio e representantes da cadeia exportadora.
Vale lembrar que, embora o Brasil seja o maior exportador, 70% da carne bovina produzida no país permanece no mercado interno, enquanto os cortes exportados — principalmente dianteiro e miúdos — são menos consumidos por brasileiros, mas amplamente utilizados em hambúrgueres nos EUA e ensopados típicos na Ásia.
