Política
Base de Lula ameaça fuga de CPI do INSS
Governistas avaliam deixar comissão após derrota para oposição e temem impacto de quebras de sigilo
A base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia uma estratégia de abandono da CPI do INSS após a derrota que garantiu à oposição o comando da comissão. Pelo menos quatro senadores e um deputado já manifestaram, nos bastidores, a intenção de sair do colegiado, alegando que o ambiente tornou-se “totalmente imprevisível” diante da possibilidade de quebras de sigilo que podem gerar danos políticos além do escândalo dos descontos fraudulentos em aposentadorias e pensões.
Segundo informações, a movimentação envolve lideranças de peso do MDB, PSD e PT, que enxergam no relator escolhido, Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), um risco para o governo. Deputados e senadores consideraram sua designação a “pior possível”, já que Gaspar é de oposição declarada e tem histórico de atuação firme em investigações. O parlamentar já afirmou que pretende “seguir o dinheiro” e identificar o “suporte político” dado às fraudes no INSS.
Entre os descontentes, estão nomes como o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que pediu substituição ao líder do partido, Eduardo Braga (AM), e senadores do PSD, como Otto Alencar (BA) e Omar Aziz (AM), que também sinalizaram saída. No PT, um deputado de grande influência afirmou não querer participar de uma comissão relatada por um “bolsonarista imponderável”.
O desconforto foi agravado pela falta de articulação do Planalto, que resultou na derrota política. O senador Omar Aziz não escondeu o incômodo e responsabilizou o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), que chegou atrasado à sessão de instalação e não teria sequer organizado a contagem de votos.
Quebras de sigilo preocupam governo Lula
Inicialmente, o governo acreditava ter controle da CPI e planejava uma rápida conclusão dos trabalhos, ressaltando que os descontos fraudulentos começaram em 2016, durante o governo Michel Temer, e se expandiram na gestão de Jair Bolsonaro. O Planalto buscava reforçar a narrativa de que, ao tomar conhecimento dos novos casos já em sua gestão, Lula teria agido: demitiu o ministro da Previdência, Carlos Lupi, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, homologou acordo no STF e iniciou ressarcimento às vítimas.
Agora, porém, aliados admitem que as quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico podem trazer à tona informações capazes de criar novas crises para o governo, mesmo que fora do escopo formal da CPI. Nos bastidores, a avaliação é de que vazamentos inevitavelmente ocorrerão, alimentando desgaste político.
Com o cenário instável e a relatoria nas mãos da oposição, líderes da base discutem se vale a pena manter presença ativa na CPI ou se a retirada seria a alternativa menos custosa para o governo.
