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Exposição de Zanele Muholi celebra comunidade LGBTQIAPN+ em São Paulo

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“Tudo o que eu quero ver é apenas a beleza. E beleza não significa que você tenha que sorrir, mostrar os dentes ou se esforçar mais. Basta existir”. É acima de duas fotografias coloridas de pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, em uma das paredes do sexto andar do Instituto Moreira Salles (IMS), na capital paulista, que a frase de Zanele Muholi foi colocada.

A frase demonstra como o conceito de beleza permeia o trabalho de Muholi, artista e ativista da África do Sul que se identifica como uma pessoa não binária e é um dos nomes mais aclamados da fotografia atual. Em seu trabalho a beleza não é apresentada como uma qualidade, mas se transforma em um ato político, colocando em evidência e destaque pessoas que geralmente são postas à margem da sociedade ou da história.

Em Zanele Muholi: Beleza Valente, a nova mostra em cartaz a partir deste sábado (22) no IMS Paulista, são apresentados mais de 100 trabalhos de Muholi que foram concebidos desde os anos 2000 até hoje, incluindo trabalhos inéditos produzidos no Brasil. Além de fotografias, o conjunto apresenta ainda vídeos, pinturas e uma escultura em bronze colocada na entrada do edifício.

A mostra faz um panorama de Muholi, mostrando como sua obra funde arte e ativismo e produz uma nova visão sobre a arte do retrato e sobre o conceito de beleza.

“É um trabalho que vai falando muito sobre a possibilidade da beleza como ferramenta de resistência e empoderamento”, descreveu Daniele Queiroz, uma das curadoras da exposição junto a Thyago Nogueira e Ana Paula Vitorio.

“Não são os padrões de beleza que vão ditar esse movimento, mas são as próprias pessoas que são fotografadas. Essa beleza está então embutida de uma valentia”, acrescentou, explicando sobre a escolha do nome da mostra.

Fotografia como cura

São Paulo- 21/02/2025 -  Exposição da Zanele Muholi, artista e ativista da África do Sul, que se identifica como uma pessoa não binária e é um dos nomes mais aclamados da fotografia atual. Fotos Zanele Muholi
Exposição da Zanele Muholi no IMS vai até junho Fotos Zanele Muholi – Zanele Muholi

Muholi nasceu em 1972, durante o regime de apartheid na África do Sul. O fim desse regime de segregação racial e o estabelecimento de uma nova Constituição, implementada por Nelson Mandela em 1996, não foram suficientes para combater o racismo, o preconceito e os crimes de ódio no país. Foi para lutar contra essa realidade que Muholi decidiu estudar fotografia e começou a fazer reportagens que expunham a violência no país.

“Eu uso a fotografia para confrontar e curar, por isso me denomino ativista visual”, descreveu Muholi sobre a própria trajetória artística.

Com o passar do tempo, as fotografias de denúncia viraram retratos e autorretratos e ganharam uma nova dimensão, passando a se transformar em um grande arquivo de imagens que fornece ao mundo uma nova perspectiva histórica, confrontando e subvertendo as narrativas coloniais.

Esse grande memorial feito por Muholi vem fornecendo aos museus de todo o mundo imagens de pessoas que foram historicamente excluídas das representações oficiais.

“[A obra de Muholi] amplia a nossa compreensão, não só da arte, mas também do respeito da dignidade humana”, disse Thyago Nogueira.

“Pensei no meu trabalho como se fosse um texto visual que tem um contexto que fala por muitas pessoas como eu e que se expressam como eu”, disse Muholi, em entrevista coletiva concedida esta semana na sede do IMS, na capital paulista.

Seu trabalho, descreveu, tem o objetivo de dar um novo significado à beleza. “[A beleza é] uma coisa que às vezes não ouvimos de outras pessoas que estão nos criticando ou nos violando ou quando elas querem que você se sinta menos que alguma coisa. Então, a beleza é uma questão de afirmação e de memória, de olhar para si mesmo no espelho. A gente só precisa carregar esse pensamento conosco, dentro de nós mesmos, para dizer que somos lindos e aí nos sentiremos mais fortes. Isso é sobre força, é sobre afirmação. É sobre uma ênfase na nossa existência”, definiu.

Além de subverter a forma como essas pessoas eram retratadas no passado, suas obras têm também o objetivo de se transformar em uma plataforma de educação. “Isso é para dizer que os museus estão se abrindo, e os espaços estão se abrindo e muitas pessoas podem ser educadas sobre esses problemas que são delicados e, às vezes, íntimos”, ressaltou. “A gente fala que esse trabalho precisa ser discutido e precisa ser usado também para educação, para que as próximas gerações saibam que a gente pode viver nessa sociedade de uma forma saudável”, acrescentou.

Para Muholi, a educação precisa ser repensada em todo o mundo para se tornar um ambiente mais inclusivo. “Vamos mudar o currículo, vamos mudar a forma como as pessoas pensam e a forma como as pessoas falam e articulam a si mesmas. Precisamos criar espaços seguros e ambientes seguros”, defendeu.

“Se as crianças fossem ensinadas que o racismo é errado desde o começo, elas não cresceriam com ódio. As crianças brincam juntas, elas não sabem nada sobre quem é uma pessoa negra ou sobre quem é uma pessoa branca até que isso seja ensinado a elas”, ressaltou.

São Paulo- 21/02/2025 -  Exposição da Zanele Muholi, artista e ativista da África do Sul, que se identifica como uma pessoa não binária e é um dos nomes mais aclamados da fotografia atual. Fotos Zanele Muholi
Zanele Muholi é um dos nomes mais aclamados da fotografia atual – Zanele Muholi

Séries fotográficas

Nessa retrospectiva de Muholi no Instituto Moreira Salles estão sendo apresentadas suas principais séries fotográficas, como Faces e Fases (Faces and Phases), em que ela faz um arquivo da comunidade LGBTQIAPN+ sul-africana; além de Somnyama Ngonyama e Bravas Belezas (Brave Beauties). O público também vai encontrar imagens produzidas no início da carreira de Muholi, como Apenas Meio Quadro (Only Half the Picture), série realizada de 2002 a 2006, que documenta pessoas que sofreram violência de gênero ou racial, como agressões e estupros “corretivos”.

Muitas destas séries são fruto de um envolvimento com as pessoas fotografadas, buscando retratá-las com suas roupas e poses preferidas, em situações que valorizem sua imagem e aparência. “Eu queria que isso fosse muito articulado no meu trabalho porque as pessoas são pessoas, no final das contas. E o amor é o amor. E o respeito é uma coisa chave para qualquer pessoa, independente de como essas pessoas se identificam. E esse diálogo é sobre a política de existência e a política de silenciamento e a política de escutar o outro sem ser violento. Essa pessoa [retratada] fala ‘eu estou aqui, me escuta, respeite a minha existência’”, explica Muholi..

São Paulo- 21/02/2025 -  Exposição da Zanele Muholi, artista e ativista da África do Sul, que se identifica como uma pessoa não binária e é um dos nomes mais aclamados da fotografia atual. Fotos Zanele Muholi
Exposição traz mais de 100 obras de Zanele Muholi – Zanele Muholi

A mostra traz ainda obras inéditas feitas no Brasil em 2024, quando Muholi veio a São Paulo para participar do Festival ZUM e conheceu organizações e instituições LGBTQIAPN+, num diálogo entre a história da luta por direitos no seu país e no contexto brasileiro. “Em diálogo com as obras e com essa cronologia sul-africana, a gente também pensa a luta por direitos aqui no Brasil”, enfatizou Ana Paula Vitorio.

Muholi estará presente na programação de abertura da mostra neste sábado. A partir das 15h, participa de uma conversa com o público, acompanhada pela equipe curatorial. E às 17h, de uma sessão de autógrafos do catálogo da retrospectiva, que será lançado na ocasião.

Todos os eventos, inclusive a visita à exposição, são gratuitos. Mais informações sobre a mostra, que fica em cartaz até 22 de junho, podem ser obtidas no site do instituto.

Fonte: Agência Brasil

Redação Saiba+

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Rui Costa celebra recorde de empregos no Brasil: “Economia bombando”

Ministro da Casa Civil destaca crescimento do mercado de trabalho, baixa no desemprego e queda no preço dos alimentos durante evento do metrô em Salvador

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Durante cerimônia realizada na manhã desta segunda-feira (9), na Praça do Campo Grande, em Salvador, o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), destacou números positivos da economia brasileira, com ênfase na geração recorde de empregos formais, crescimento do PIB e redução no preço de alimentos.

A ocasião marcou o anúncio da licitação do Tramo IV do metrô Salvador–Lauro de Freitas, além da aquisição de 10 novos trens para o sistema metroviário da capital baiana. Em seu discurso, Rui Costa comemorou os resultados recentes do mercado de trabalho:

“Temos hoje o maior número de pessoas com carteira assinada da história do Brasil: 48,6 milhões de trabalhadores formais. Somando os trabalhadores informais e os MEIs, são mais de 106 milhões de brasileiros com mão de obra ocupada”, declarou o ministro.

Ele também destacou a menor taxa de desemprego da história, atualmente em 6,6%, e afirmou que o país vive um momento de retomada consistente da economia.

“A economia brasileira cresceu 3% em 2023 e deve repetir o desempenho em 2024. Se mantivermos esse ritmo, chegaremos a 2025 entre os cinco países do mundo que mais investem e geram empregos”, afirmou Rui.

Além do crescimento do emprego, Rui Costa ressaltou a queda significativa nos preços dos alimentos, reflexo de políticas implementadas pelo governo federal.

“O povo esperava, e estamos vendo: arroz, ovo e frango caíram bastante de preço. Atuamos fortemente para reduzir o imposto de importação, e agora os resultados estão chegando à mesa dos brasileiros”, disse ele.

O ministro garantiu que o governo continuará monitorando os preços para garantir acesso à alimentação com qualidade e preço justo, reforçando o compromisso social da gestão do presidente Lula.

Com o avanço nas obras de infraestrutura e os investimentos em mobilidade urbana e geração de empregos, Rui Costa reforçou que o Brasil está em uma trajetória sólida de crescimento econômico e inclusão social.

Redação Saiba+

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Governo reduz IOF e mira apostas para compensar arrecadação

Acordo entre Haddad e Congresso prevê corte nas alíquotas do IOF e aumento da tributação sobre apostas esportivas, além de revisão em isenções fiscais

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O ministro Fernando Haddad (Fazenda), com o vice-presidente Geraldo Alckmin, os senadores Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente do Congresso, e os deputados José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, e Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara - Adriano Machado/Reuters

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um acordo com o Congresso Nacional para reduzir as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), estabelecidas em decreto no fim de maio. Para evitar perdas de arrecadação, o governo pretende compensar a medida com o aumento da tributação sobre apostas esportivas, o corte de isenções fiscais e a taxação de novos instrumentos financeiros atualmente isentos.

A proposta foi apresentada por Haddad em uma reunião com líderes partidários da Câmara e do Senado no último domingo (8). O plano inclui a cobrança de 5% de Imposto de Renda sobre aplicações como LCIs e LCAs, além da tributação de juros sobre capital próprio. As medidas deverão ser formalizadas por meio de uma Medida Provisória e de um Projeto de Lei Complementar.

Outro ponto central do acordo é a revisão da cobrança de IOF sobre operações de risco sacado, considerado um dos trechos mais polêmicos do decreto anterior. A mudança atende à pressão do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que chegou a anunciar a possibilidade de derrubar o decreto via projeto legislativo.

A nova calibragem do IOF deve reduzir em média 65% das alíquotas previstas inicialmente, limitando a arrecadação a cerca de um terço do valor projetado pelo Ministério da Fazenda. Para cobrir essa diferença, Haddad propôs elevar a alíquota das apostas esportivas de 12% para 18%, retomando um patamar já considerado pelo Executivo no passado.

Segundo o ministro, o plano será discutido em detalhes com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta terça-feira (10), com previsão de envio imediato das propostas ao Congresso.

Além da taxação sobre bets, o governo pretende reduzir em até 10% o volume de isenções fiscais, como parte de um esforço estrutural para reorganizar a arrecadação federal sem depender de medidas paliativas. As conversas também abordaram a possibilidade de limitação de deduções médicas no Imposto de Renda, revisão de gastos do Fundeb e aumento da carga tributária sobre fintechs.

A reunião de domingo ocorreu após dias de forte tensão entre o governo e o Congresso. Motta chegou a ameaçar colocar em votação um projeto para anular o decreto que aumentou o IOF, gerando pressão para um recuo técnico do Ministério da Fazenda.

Nos bastidores, integrantes do governo confirmaram que a compensação exigirá uma PEC, um projeto de lei e uma medida provisória, sinalizando que a recomposição da arrecadação deve ocorrer em múltiplas frentes. O objetivo é blindar o equilíbrio fiscal previsto para os anos de 2025 e 2026, sem que isso resulte em desgaste político adicional ao governo.

Mesmo com resistência de setores influentes, como bancos e empresas do setor imobiliário, o governo considera que o novo pacote representa uma alternativa viável para evitar o colapso do decreto original. A expectativa é de que a proposta avance com apoio da base aliada, dada a flexibilidade apresentada por Haddad nas negociações com o Legislativo.

Redação Saiba+

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Renault convoca recall de Duster e Duster por risco de falha grave no eixo traseiro

Problemas nos dois modelos podem afetar a dirigibilidade e causar acidentes; correções já podem ser agendadas na rede autorizada

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A montadora Renault anunciou nesta semana um recall para os modelos Duster e Kwid, ambos por falhas detectadas no eixo traseiro que podem comprometer a segurança dos ocupantes e a dirigibilidade dos veículos. O chamado atinge milhares de unidades fabricadas entre 2021 e 2024.

De acordo com a empresa, os proprietários devem agendar a inspeção gratuita em qualquer concessionária da marca, onde o componente será verificado e, se necessário, substituído. As informações detalhadas podem ser consultadas no site oficial da Renault ou pelo telefone 0800 055 5615.

Problemas distintos, riscos semelhantes

No caso do Renault Duster, foi detectado um defeito no processo de usinagem das roscas do rolamento do eixo traseiro, o que pode resultar em fixações soltas ou ausentes. Se o eixo se desprender do chassi, há risco de perda de controle do veículo e acidente. Antes disso, é possível que o motorista escute ruídos fortes vindos da parte traseira. O reparo nesse modelo pode levar entre 30 minutos e 1h30, dependendo do diagnóstico.

Já o Renault Kwid apresenta um problema de origem diferente, mas com consequências igualmente graves. A montadora identificou a possibilidade de fissuras no suporte do eixo traseiro, que podem se agravar com o tempo e comprometer o funcionamento da peça e a estabilidade do carro. O reparo no Kwid é mais complexo, podendo durar de 30 minutos até 8 horas, conforme a extensão do dano.

Modelos e chassis envolvidos

Os veículos atingidos pelo recall estão dentro dos seguintes intervalos:

  • Renault Kwid
    Chassis: J000006 a J986154
    Data de fabricação: 05/05/2021 a 12/05/2023
  • Renault Duster
    Chassis: J060924 a JL87197
    Data de fabricação: 16/09/2024 a 06/12/2024

A Renault reforça que não foram registrados acidentes até o momento em decorrência dos defeitos, mas destaca a urgência do reparo para garantir a segurança dos motoristas e passageiros.

Agendamento imediato

Para realizar o serviço, o proprietário deve agendar previamente o atendimento. O recall é gratuito, como previsto no Código de Defesa do Consumidor, e a montadora orienta que os motoristas evitem longas viagens até a realização da inspeção, especialmente nos casos em que há sintomas como ruídos ou instabilidade na traseira do veículo.

Redação Saiba+

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