Polícia
Depoimentos, cultos e tornozeleiras: a crise se aprofunda no entorno de Bolsonaro
Ex-major expulso do Exército chama desabafo de Braga Netto de “choradeira de perdedor”, enquanto Bolsonaro, com tornozeleira, chora em culto e escapa de prisão após decisão de Moraes.
A crise política envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados ganhou novos contornos nesta quinta-feira (24), com depoimentos impactantes ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma decisão polêmica de Alexandre de Moraes, e o ex-presidente visivelmente emocionado em um culto religioso, onde compareceu com tornozeleira eletrônica.
O major reformado Ailton Barros, expulso do Exército, afirmou que considerou como “choradeira de perdedor” os pedidos do general Walter Braga Netto para atacar os chefes das Forças Armadas contrários à tentativa de golpe em 2022. O depoimento foi dado no âmbito do processo sobre a trama golpista, no qual Barros é réu.
Segundo Barros, as mensagens de Braga Netto – como a que pedia “oferecer a cabeça aos leões” – foram interpretadas por ele como lamúrias pós-eleitorais. “Foi um desabafo. Minha cabeça estava voltada para a política, queria engajamento e votos”, afirmou. Em suas palavras, o conteúdo era ambíguo de propósito: “Isso eu aprendi nas aulas de marketing.”
Enquanto isso, Jair Bolsonaro participava de um culto evangélico em Taguatinga (DF), chorando ao ouvir a pregação de sua esposa, Michelle Bolsonaro. O ex-presidente permanece sob medidas cautelares do STF, incluindo uso de tornozeleira eletrônica e restrições de saída aos fins de semana. O culto aconteceu no mesmo momento em que Moraes optou por não decretar sua prisão preventiva, apesar de entender que houve descumprimento de medidas anteriores.
A decisão do ministro causou reações mistas entre apoiadores do ex-presidente. Embora parte do grupo político veja a negativa da prisão como um recuo estratégico, outros avaliam que a medida revela uma tentativa de “maquiar a censura” com aparência de legalidade.
Paralelamente, cresce a tensão em torno dos militares envolvidos na articulação golpista. Além de Barros, nomes como Ângelo Denicoli, Guilherme Marques, Reginaldo Abreu e Marcelo Bormevet são citados entre os réus no STF. As investigações continuam em ritmo acelerado e com forte pressão pública.
A mobilização de Bolsonaro no culto é vista como mais uma tentativa de reafirmar sua ligação com a base evangélica, mesmo sob vigilância do Judiciário. O simbolismo da tornozeleira visível durante a cerimônia marca o contraste entre o passado de poder e o presente de acusações e restrições.
