Brasil
Messias desponta como favorito de Lula para vaga no STF
Proximidade com o presidente fortalece chefe da AGU na disputa; parte do Supremo defende Rodrigo Pacheco, mas chance de mulher na corte é considerada baixa
A cúpula do Judiciário avalia que o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, é hoje o nome mais forte na disputa pela indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à vaga do Supremo Tribunal Federal (STF) aberta com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso.
A percepção entre ministros da corte é de que Messias leva vantagem pela proximidade com Lula. Nas duas indicações anteriores — Cristiano Zanin e Flávio Dino — o presidente manteve o padrão de lealdade e confiança pessoal como critérios centrais.
De acordo com relato de um ministro do STF, Lula já teria sinalizado que Messias seria o próximo da lista de preferências, caso mantivesse o mesmo perfil de escolha. O advogado-geral da União é presença constante em reuniões estratégicas e é considerado um dos nomes de maior confiança do presidente no campo jurídico.
Por outro lado, setores do Supremo e do Congresso defendem que Lula priorize um nome com forte articulação política, o que abre espaço para o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ex-presidente do Senado, Pacheco mantém bom trânsito entre ministros do STF, tendo barrado pedidos de impeachment contra membros da corte e participado de eventos privados com figuras do Judiciário.
Um movimento recente de Pacheco, interpretado como aceno ao Judiciário, foi sua liderança na atualização do Código Civil. Uma comissão de juristas se reuniu nos últimos dois anos para elaborar uma minuta de proposta, que agora é analisada por uma comissão temporária do Senado presidida pelo senador mineiro.
Além de Messias e Pacheco, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, também é citado entre os cotados para a vaga. Dantas tem bom trânsito no Senado e no STF e chegou a ser cogitado por Lula antes da escolha de Flávio Dino, mas não figura entre os favoritos no momento.
Há ainda pressão por representatividade de gênero. O ministro Barroso é um dos defensores da nomeação de uma mulher, argumentando que as mulheres perderam espaço no Supremo desde a aposentadoria de Rosa Weber. Atualmente, Cármen Lúcia é a única ministra da corte.
Apesar disso, as chances de Lula escolher uma mulher são consideradas baixas. Aliados do presidente lembram que ele já indicou mulheres para o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e para o STM (Superior Tribunal Militar) nos últimos meses, o que, segundo avaliação interna, reduz a pressão sobre o Supremo.
A reportagem consultou cinco ministros do STF e do STJ sobre a disputa. Apesar de parte dos magistrados preferir Pacheco, o nome de Messias é tido como o mais provável.
A avaliação é que Lula não deve demorar para anunciar sua escolha, a fim de evitar pressões políticas. A definição deve ocorrer após o retorno do presidente da Itália, na próxima semana, seguido de uma conversa reservada com Barroso.
Entre os integrantes do Supremo, Messias é visto como discreto, técnico e leal, embora com pouca projeção acadêmica e trajetória jurídica sem grande destaque público. Ele tem, porém, forte apoio dentro do PT e entre advogados próximos ao governo.
Jorge Messias concluiu seu doutorado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB) em 2024, com pesquisa sobre a atuação da AGU e as estratégias de desenvolvimento do Brasil na sociedade de risco global. No mestrado, também pela UnB, estudou compras governamentais como política de incentivo à inovação.
Tanto Messias quanto Pacheco têm adotado discrição pública enquanto Lula define o nome que ocupará a vaga. Nenhum dos dois se manifestou oficialmente sobre a aposentadoria de Barroso, e as felicitações foram feitas de forma reservada.
Caso se confirme o favoritismo de Messias, será a terceira indicação de Lula ao STF em seu atual mandato — consolidando influência direta na composição e nos rumos do Supremo Tribunal Federal.
