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Política

Bolsonaro e Lula: paralelos e contrastes nos julgamentos no STF

Ex-presidentes enfrentam acusações distintas, mas ambos sustentam discurso de perseguição política e mobilizam aliados no exterior

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Bolsonaro durante depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, no STF - Gabriela Biló

Os caminhos jurídicos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se cruzam em um espelho de narrativas políticas. Apesar de responderem por crimes diferentes em momentos distintos, ambos recorreram ao discurso de lawfare — perseguição judicial com fins políticos — para mobilizar suas bases e tentar legitimar a própria defesa.

A partir do dia 2, o Supremo Tribunal Federal (STF) julga Bolsonaro no caso da trama golpista, em que o ex-presidente é acusado de tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. Já Lula, entre 2017 e 2019, enfrentou a Operação Lava Jato, com condenações que mais tarde foram anuladas pela corte, após o reconhecimento da parcialidade do então juiz Sergio Moro.

Cristiano Zanin, hoje ministro do STF, foi o principal defensor de Lula na Lava Jato, enquanto Celso Vilardi assume papel semelhante na defesa de Bolsonaro. Ambos utilizam o argumento de que seus clientes foram alvos de um processo judicial conduzido com motivação política.

Julgamentos em contextos diferentes

Na Lava Jato, Lula foi condenado por Moro em 2017 e preso em 2018, quando liderava as pesquisas presidenciais. A narrativa petista sustentava que o processo visava retirá-lo da disputa eleitoral. Em 2021, o STF anulou todas as condenações e considerou Moro parcial.

No caso de Bolsonaro, o julgamento segue em foro privilegiado, mesmo após deixar a presidência, por decisão do próprio Supremo em março de 2025. A defesa questionou a atuação do ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, mas o pedido de impedimento foi rejeitado.

Especialistas, como o procurador e jurista Roberto Livianu, avaliam que as acusações contra Bolsonaro são mais graves que as de Lula: “O crime contra a ordem democrática é uma fratura social de dificílima reparação, que lesa a sociedade como um todo.”

Segurança e repercussão política

Assim como em 2017, quando Curitiba foi palco de fortes medidas de segurança durante depoimento de Lula, Brasília reforça o esquema em torno do STF. Agentes ocupam a Praça dos Três Poderes para evitar protestos e novos acampamentos.

Para seus aliados, Bolsonaro tenta repetir a estratégia de Lula em 2018: lançar-se como candidato e, em caso de inelegibilidade, transferir sua força eleitoral a um sucessor. A diferença, segundo a cientista política Juliana Fratini, é que “Lula já havia preparado Fernando Haddad como herdeiro político, enquanto Bolsonaro ainda não definiu quem conduzirá o bolsonarismo sem ele”.

Disputa internacional

Os dois ex-presidentes também buscaram respaldo no exterior. Lula acionou organismos internacionais e teve reconhecida pela ONU a violação de seus direitos políticos. Já Bolsonaro contou com apoio de Eduardo Bolsonaro e Donald Trump, que chegaram a pressionar contra o ministro Moraes, inclusive com sanções comerciais.

Em áudios apreendidos pela Polícia Federal, Bolsonaro condicionou a retirada das tarifas impostas pelos EUA à aprovação da anistia no Congresso: “Resolveu a anistia, resolveu tudo. Não resolveu, já era.”

Para o ex-ministro petista José Eduardo Cardozo, a diferença é clara: “No exterior fomos dar palestras e acionar organismos internacionais, não pedir que Estados estrangeiros aplicassem sanções contra o Brasil.”

Redação Saiba+

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Política

Lula afirma que ainda não há exigências de Trump sobre o “tarifaço”

Em encontro diplomático marcado na Malásia, Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump se preparam para negociar futura redução de tarifas, sem pé na mesa por enquanto

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Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante declaração conjunta à imprensa, na Residência do Primeiro-Ministro da Malásia. Putrajaya (Malásia) Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, ainda não apresentou exigências formais em relação à redução do chamado “tarifaço” aplicado sobre produtos brasileiros. Segundo Lula, o momento é de diálogo e construção de consensos, e não de imposições.

Durante agenda internacional, o presidente ressaltou que as negociações entre os dois países devem ocorrer com respeito mútuo e equilíbrio econômico, destacando que “não há exigências dele, e não há exigências nossas ainda”. A fala evidencia a estratégia de manter abertas as portas para o entendimento, sem assumir compromissos unilaterais que possam prejudicar a indústria nacional.

A medida de Trump, que elevou tarifas sobre exportações brasileiras em setores estratégicos, é vista pelo governo como um desafio diplomático que precisa ser tratado com prudência e firmeza política. Lula reiterou que o Brasil buscará condições justas de comércio internacional, priorizando o fortalecimento das exportações e a valorização da produção nacional.

O encontro entre os dois líderes, previsto para os próximos dias, deve definir os rumos da relação econômica bilateral. De acordo com o Palácio do Planalto, a expectativa é que a reunião aproxime as posições e crie um ambiente propício para um acordo comercial mais equilibrado.

A postura de Lula reforça a imagem de um governo disposto ao diálogo, mas atento à defesa dos interesses brasileiros, sobretudo em temas ligados à competitividade, à indústria e à soberania econômica.

Redação Saiba+

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Política

Haddad prefere “ser gastador” a “caloteiro”, diz ministro da Fazenda

Em tom firme, Fernando Haddad defende o pagamento de precatórios e reafirma compromisso com a responsabilidade fiscal

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O ministro Fernando Haddad — Foto: Maria Isabel Oliveira

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a defender nesta sexta-feira que o governo federal deve manter o pagamento regular dos precatórios, reforçando a importância de preservar a credibilidade financeira do país. Em suas palavras, ele afirmou que prefere “ter a pecha de ter gastado mais do que a de caloteiro”, deixando claro que a prioridade é honrar as dívidas judiciais da União.

Durante o discurso, Haddad criticou a ideia de adiar ou suspender pagamentos de precatórios, classificando tal prática como ilegal, inconstitucional e irracional. Para ele, a postergação desses valores não apenas compromete o equilíbrio fiscal, mas também afeta cidadãos e empresas que aguardam há anos por decisões judiciais transitadas em julgado.

O ministro enfatizou que o governo federal tem condições de cumprir suas obrigações sem recorrer a manobras contábeis. “A União tem capacidade de financiamento e deve dar o exemplo”, disse Haddad, destacando que a credibilidade econômica é construída com previsibilidade e respeito às regras.

A fala ocorre em meio às discussões sobre novas normas de controle de gastos públicos e revisão das regras fiscais. Haddad reforçou que o equilíbrio das contas públicas não deve vir à custa de descumprimentos judiciais, mas por meio de gestão responsável e planejamento de longo prazo.

O posicionamento do ministro foi visto como uma tentativa de consolidar uma imagem de responsabilidade e transparência diante de um cenário de incertezas fiscais. Com a declaração, Haddad sinaliza que o governo busca manter o compromisso com a estabilidade econômica, ainda que enfrente críticas por ampliar despesas em algumas áreas.

Redação Saiba+

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Política

Lula afirma que ‘traficantes são vítimas dos usuários’ ao criticar política de Trump

Em entrevista na Indonésia, presidente brasileiro responsabiliza usuários de drogas e questiona abordagem militar dos EUA

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O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, conversa com a imprensa, na Secretaria-Geral da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), em Jacarta, na Indonésia Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou repercussão internacional ao afirmar, durante uma visita à Indonésia, que traficantes “são vítimas dos usuários também”, em uma crítica direta à política de combate ao narcotráfico conduzida pelo governo Donald Trump. Em suas declarações, Lula defendeu que o foco do enfrentamento à droga deve ir além dos fornecedores e abranger a demanda dos consumidores.

Durante a entrevista, o presidente brasileiro apontou que a abordagem militarizada dos EUA, com operações de ataque a rotas de drogas na América Latina, corre o risco de tratar o tráfico como um simples tema de segurança externa, ignorando fatores sociais internos. Ele argumentou que a causa do problema está na demanda por entorpecentes, o que torna os traficantes parte de um sistema impulsionado pelos usuários.

“Os usuários criam o mercado”, afirmou Lula, “os traficantes são vítimas dos usuários também”. A declaração representa uma linha de discurso mais humanitária e centrada em prevenção e política de saúde pública do que na repressão pura. Essa visão contrasta com a retórica de endurecimento defendida por Trump, que defende uso da força e expansão de operações no Caribe e América Latina como estratégia central.

A fala do presidente brasileiro foi interpretada como um posicionamento estratégico de diplomacia comparada, uma vez que Lula aproveitou o cenário para sugerir maior protagonismo de países de renda média no tema das drogas e questionar medidas unilaterais de segurança impostas por grandes potências.

Apesar de não detalhar planos específicos de política pública, o pronunciamento reacende o debate sobre reforma das leis de drogas, investimento em saúde mental e programas de reabilitação, e coloca o Brasil numa rota de menor alinhamento com os EUA no tema.

Redação Saiba+

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