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Projeto no Congresso propõe penas menores a “exilados” do 8 de Janeiro

Texto discutido por cúpula do Legislativo prevê novo enquadramento penal e pode beneficiar até 500 foragidos no exterior

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Vândalos atacam as sedes dos três Poderes em 8 de Janeiro de 2023 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Um novo projeto de lei está sendo articulado nos bastidores do Congresso Nacional para oferecer um tratamento mais brando aos brasileiros considerados foragidos por envolvimento nos atos do dia 8 de Janeiro de 2023, data marcada pelos ataques aos Três Poderes em Brasília. O texto deve ser apresentado como alternativa à anistia ampla defendida por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A proposta prevê a redução de penas para quem não participou diretamente da trama golpista, mas foi condenado por atos como depredação ou invasão. O PL de Bolsonaro calcula que cerca de 500 brasileiros estão nessa situação, vivendo em países como Argentina, Paraguai, Uruguai, México e Estados Unidos, muitos com pedidos de asilo político em andamento.

Atualmente, os envolvidos enfrentam penas de até 20 anos por crimes como tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito e associação criminosa armada. Com a nova redação, essas pessoas poderiam responder apenas por crimes como depredação do patrimônio público tombado, com punições que variam entre dois e seis anos.

O caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, que cumpre prisão domiciliar após ter sido condenada a 14 anos por pichar a estátua da Justiça, é frequentemente citado como exemplo da severidade das penas aplicadas.

Desde 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) abriu 1.586 ações penais ligadas ao 8 de Janeiro. Até o momento, 487 pessoas foram condenadas, 8 absolvidas e 542 fecharam acordos de não-persecução penal. A proposta de novo enquadramento penal é vista como uma tentativa de equilibrar o rigor jurídico com a análise de contexto individual de cada envolvido.

A minuta do projeto está sendo discutida pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), com apoio técnico de juristas e diálogo com ministros do STF. O ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também integra o grupo de articulação.

Embora o texto não beneficie automaticamente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe, seus advogados avaliam usar a nova legislação para pedir benefícios futuros ao ex-presidente. A defesa vê na proposta uma oportunidade para reverter penas consideradas desproporcionais.

O debate ocorre em um momento decisivo, com a Primeira Turma do STF julgando o núcleo estratégico da tentativa de golpe. A oposição busca acelerar a tramitação do projeto antes do recesso parlamentar, previsto para 18 de julho.

A expectativa é que o texto seja apresentado ainda neste mês. O pastor Silas Malafaia convocou um novo ato em apoio a Bolsonaro no próximo domingo (29), na Avenida Paulista, com o lema “Justiça Já”.

No entanto, aliados do presidente Lula consideram que a proposta não terá chances de prosperar. “É mais uma tentativa desesperada da oposição para fazer barulho e salvar Bolsonaro”, disse o deputado Carlos Zarattini (PT-SP).

Já o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), mantém o foco na aprovação da anistia. Para ele, mesmo a CPI dos Atos Golpistas não deve avançar com profundidade. “A CPI vai terminar em pizza. O PT vai cooptar todo mundo”, afirmou.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI), que deve ser instalada em agosto, será presidida pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), aliado do Planalto. Entre os nomes cotados para a relatoria estão os deputados Alfredo Gaspar (União-AL), Evair de Melo (PP-ES) e Mendonça Filho (União-PE).

Redação Saiba+

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Chefe da Receita Federal acusa devedores contumazes de lavar dinheiro e chama-os de “bandidos”

Robinson Barreirinhas defende projeto para penalizar empresas que usam inadimplência fiscal como mecanismo de crime organizado

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Secretário Especial da Receita Federal - Secretaria Especial da Receita Federal, Robinson Sakiyama Barreirinhas Foto: Mario Agra/Câmara dos Deputados

O secretário-executivo da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, fez declarações contundentes ao afirmar que os chamados devedores contumazes, que evitam o pagamento de tributos de forma deliberada, atuam como “bandidos” e facilitam a lavagem de dinheiro vinculada ao crime organizado. Afirmou ainda que “não estamos falando de simples contribuintes, mas de estruturas que abrem empresas somente para não pagar impostos e, ainda por cima, ocultar recursos ilícitos”.

Em evento com participação de parlamentares e empresários, Barreirinhas ressaltou que o governo busca acelerar a tramitação de um projeto de lei que define nova tipificação para devedores contumazes, com alvo especial para aqueles que utilizam empresas como fachada para movimentações ilegais. Ele destacou que empresas envolvidas em esquemas com organizações criminosas — como redes de distribuição de combustíveis usadas para lavagem de dinheiro — já são monitoradas e que “a evasão fiscal incessante se conecta diretamente à criminalidade financeira organizada”.

Para reforçar o argumento, ele citou que a recente aprovação no Senado de regras mais rigorosas para devedores contumazes cria instrumentos para impedir a participação dessas empresas em licitações públicas, aplicar restrições operacionais e recuperar valores tributários que hoje se perdem. O secretário afirmou que “o combate à sonegação fiscal, à lavagem de dinheiro e à distorção concorrencial caminharem juntos é indispensável para resguardar a economia legal”.

Com o discurso, a pasta reforça a estratégia de endurecimento da fiscalização, aprimoramento da legislação e cooperação entre Receita Federal, Polícia Federal e Ministério Público no enfrentamento de fraudes estruturadas. Para empresas que exercem negócios de fato, o secretário insistiu que haverá distinção clara entre inadimplência legítima e inadimplência estratégica com fins criminosos.

Redação Saiba+

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Absolvição dos réus da tragédia no Ninho do Urubu choca o país

Justiça do Rio absolve acusados de incêndio que matou 10 jovens e reacende debates sobre impunidade e segurança nos clubes

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Ninho do Urubu, CT do Flamengo, após o incêndio que causou a morte de 10 pessoas. Foto: Fabio Motta

A decisão da Justiça do Rio de Janeiro de absolver todos os réus acusados pelo incêndio no centro de treinamento do Flamengo, que causou a morte de dez jovens atletas em 2019, provocou indignação social e levantou graves questionamentos sobre a responsabilização em acidentes envolvendo menores e instituições esportivas.

O incêndio, que ocorreu em uma instalação improvisada de contêineres destinada à base do clube, revelou falhas chocantes: alvará irregular, estrutura precária e reação tardia dos responsáveis. O juiz responsável pela sentença apontou que não foram identificadas provas suficientes para imputar responsabilidade penal individual, resultando na tragédia sem culpados.

A repercussão da absolvição ultrapassa o campo jurídico: familiares das vítimas, torcedores e especialistas em administração esportiva consideram a decisão um sinal de fragilidade institucional na apuração de crimes com resultado fatal. A ausência de punição acende alertas sobre segurança em alojamentos de formação, padrões de fiscalização e omissões de entidades públicas ou privadas.

Mesmo após acordo extrajudicial com o Flamengo e famílias, a dura realidade das jovens vítimas permanece viva no imaginário coletivo. A decisão volta a intensificar críticas à cultura de negligência no futebol de base, à responsabilidade de clubes e à ausência de modelos eficazes de prevenção de tragédias.

O episódio coloca o país diante de um debate urgente sobre transparência, responsabilidade civil e criminal em espaços esportivos, especialmente quando envolvem menores. O que se vê é uma lacuna entre a comoção pública suscita reformas e o alcance real do sistema penal em garantir justiça às vítimas.

Redação Saiba+

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Brasil

Instituto de Mendonça fatura R$ 4,8 milhões em contratos públicos em pouco mais de um ano

Criado pelo ministro do STF André Mendonça, o Instituto Iter oferece cursos e palestras para governos e órgãos públicos, enquanto especialistas questionam possíveis conflitos de interesse

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Em pouco mais de um ano de funcionamento, o Instituto Iter, fundado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, movimentou R$ 4,8 milhões em contratos públicos firmados com governos estaduais, prefeituras, tribunais de contas e outros órgãos. Criado em novembro de 2023, o instituto rapidamente se consolidou como referência em cursos e palestras voltados à gestão pública — mas também levantou questionamentos sobre conflito de interesses e limites éticos da magistratura.

O Iter, que começou como uma empresa limitada e depois se tornou sociedade anônima de capital fechado, tem entre seus sócios nomes ligados ao governo Bolsonaro, como Victor Godoy, ex-ministro da Educação e atual CEO, e Danilo Dupas, ex-presidente do Inep. A empresa Integre, de propriedade do casal Mendonça, é a acionista majoritária do instituto.

Entre os contratos mais vultosos está o firmado com o Consórcio Intermunicipal da Região Oeste Metropolitana de São Paulo, no valor de R$ 1,2 milhão, para oferta de cursos e palestras a servidores. Governos de São Paulo, Bahia e Piauí, além de tribunais de contas e câmaras municipais, também constam na lista de clientes públicos.

O ministro nega qualquer irregularidade e afirma que sua atuação no Iter é “exclusivamente educacional”, amparada pela Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman), que permite o exercício do magistério. “O instituto é voltado à disseminação do conhecimento e à formação técnica e ética de gestores”, declarou Mendonça em nota.

No entanto, juristas como Conrado Hübner, professor da USP, e Fernando Fontainha, da UERJ, apontam que a atuação do ministro pode configurar violação do dever de reserva e conflito de interesses, já que o instituto mantém vínculos diretos com agentes e instituições que podem ser alvo de decisões do STF.

Além de atuar como palestrante e moderador, Mendonça também intermediou encontros entre parlamentares e profissionais dentro do Iter, apresentando o local como um “espaço neutro, sem as influências de Brasília”. Para críticos, essa aproximação reforça a zona cinzenta entre a função pública e a atividade privada do ministro.

Mesmo com a polêmica, o Iter segue expandindo suas atividades e oferecendo cursos com valores que chegam a R$ 16 mil por aluno, além de eventos presenciais com a participação de autoridades e especialistas do setor público.

Redação Saiba+

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