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Como Fernando Collor escapou por mais de 30 anos

Ex-presidente acumula histórico de investigações, escândalos e absolvições desde o impeachment em 1992; agora, enfrenta sua primeira ordem de prisão.

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O presidente Fernando Collor de Mello na cerimônia de lançamento do programa de telefonia rural, no Palácio do Planalto, em 1992, poucas semanas antes de ser afastado em definitivo pelo Senado - Foto: Lula Marques

“O tempo é senhor da razão”. A frase estampada nas camisetas usadas por Fernando Collor nas corridas matinais da década de 1990 agora ganha novo peso. Trinta e três anos após se tornar o primeiro presidente da República eleito por voto direto após a ditadura militar e também o primeiro a sofrer impeachment, Collor enfrenta um novo capítulo em sua trajetória: a decretação de sua prisão pelo Supremo Tribunal Federal.

Fernando Collor / Foto: Reprodução

Durante mais de três décadas, o político alagoano, envolvido em diversas denúncias e escândalos de corrupção, conseguiu se manter em liberdade, chegou a ser absolvido pelo próprio STF e ainda retornou à vida pública como senador da República. Agora, a ordem de prisão marca um possível desfecho para uma longa jornada marcada por controvérsias.

O início da derrocada política de Collor remonta a 1992, quando o próprio irmão, Pedro Collor, estampou as capas das revistas com denúncias que abalaram o governo. Em entrevistas e até em livro, Pedro revelou detalhes sobre o esquema de corrupção supostamente comandado por Paulo César Farias, tesoureiro de campanha e figura central do chamado “Esquema PC”. O escândalo envolvia propina paga por grandes empresas, algumas delas posteriormente implicadas também na Operação Lava Jato e uso de cheques em nome de pessoas inexistentes, os chamados “cheques fantasmas”.

Pedro Collor denunciou o irmão Fernando Collor em maio de 1992 / Foto: Sergio Amaral/AE

Apesar das graves acusações, o ex-presidente foi absolvido pelo STF nos anos 1990 por falta de provas materiais que o ligassem diretamente a atos de corrupção. A justificativa dos ministros na época foi a ausência de atos oficiais que comprovassem o benefício direto obtido por Collor em troca dos valores recebidos.

O impeachment, no entanto, foi inevitável. Após votação na Câmara e julgamento no Senado, Collor tentou renunciar antes da conclusão do processo, mas sem sucesso. Da Casa da Dinda, residência oficial não-oficial do ex-presidente às margens do Lago Paranoá, assistiu ao fim de seu governo e deu declarações públicas de que teria sido vítima de perseguição.

Campanha política para presidente em 1989 / Foto: Reprodução

Mesmo fora da presidência, Collor manteve influência política. Foi eleito senador e figurou nos debates públicos por anos. Em paralelo, colecionou investigações e novos processos, que sempre terminaram arquivados ou em absolvições, até agora.

Collor em 1990 ao lado de Rosane Collor, ex-primeira-dama do país.

Na noite de quinta-feira, 24, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, assinou o despacho que determina a prisão do ex-presidente, encerrando um longo ciclo de impunidade. O caso reforça o entendimento crescente na Justiça de que a alta autoridade pública, mesmo afastada do poder, deve responder pelos atos cometidos durante ou após o exercício do cargo.

A defesa do Fernando Collor de Mello classificou como “surpreendente e preocupante” a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou nesta quinta-feira a prisão imediata do ex-presidente, mas disse que Collor vai se entregar.

Defesa de Collor critica decisão do STF, mas confirma que ele vai se entregar

A defesa do ex-presidente Fernando Collor de Mello classificou como “surpreendente e preocupante” a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou sua prisão imediata nesta quinta-feira (24). Em nota, os advogados Marcelo Bessa e Thiago Lôbo Fleury afirmaram que a ordem ignora pontos relevantes, como a prescrição dos crimes.

Segundo os defensores, o recurso apresentado pela equipe jurídica deveria ter sido analisado pelo Plenário do STF, que já havia agendado uma sessão para o dia seguinte. Ainda assim, os advogados confirmaram que Collor irá se apresentar às autoridades para cumprir a decisão, “sem prejuízo das medidas judiciais cabíveis”.

Redação Saiba+

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Brasil

Governo Lula não garante verba para livros didáticos de 2025

FNDE admite que orçamento atual é insuficiente e depende de suplementação para cumprir cronograma de compras

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Aluno do 4º ano na sala de leitura da emef Martin Francisco, na Vila Mazzei, zona norte de São Paulo - Diego Padgurschi

O governo Lula (PT) não assegurou os recursos necessários para a aquisição de todos os livros didáticos e literários previstos para o ano letivo de 2025. O orçamento do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) — responsável por abastecer as escolas públicas com materiais essenciais — tem um déficit estimado em R$ 1,5 bilhão.

Segundo o FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), órgão vinculado ao Ministério da Educação, a previsão era realizar a maior compra da história do programa, com mais de 220 milhões de exemplares. O custo total estimado seria de R$ 3,5 bilhões, mas o orçamento atual é de apenas R$ 2,04 bilhões.

A defasagem orçamentária afeta diretamente a entrega de livros para crianças da educação infantil, estudantes dos anos iniciais e finais do ensino fundamental, do ensino médio e da EJA (Educação de Jovens e Adultos). Em alguns casos, os editais preveem obras que deveriam ter sido entregues entre 2022 e 2024, mas ainda não foram compradas.

O atraso é ainda mais grave na educação infantil, onde os livros sofrem desgaste acelerado e precisam ser repostos com frequência. Até agora, foi essa a única etapa com compra contratada em 2025. Já os alunos do ensino médio — que passarão por mudanças curriculares a partir do próximo ano — ainda não têm garantido o material didático correspondente às novas diretrizes.

Também estão paradas as compras para:

  • 55 milhões de obras literárias para os anos iniciais e finais do ensino fundamental;
  • 8 milhões de livros para a EJA, que não recebe novos materiais há mais de 10 anos;
  • 76 milhões de livros para o ensino médio com a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC);
  • 115 milhões de exemplares para reposição no ensino fundamental.

Especialistas apontam risco real de desabastecimento nas escolas públicas. Para Claudia Costin, ex-diretora de Educação do Banco Mundial, a falta de livros no início do ano letivo compromete diretamente a qualidade do ensino.

“Por maior que seja a crise fiscal, livros são uma condição mínima para o funcionamento das escolas. Alunos de famílias pobres só têm contato com livros dentro do ambiente escolar”, destacou.

Em nota oficial, o FNDE reconheceu que o orçamento é insuficiente, mas afirmou que está em tratativas com a Secretaria de Orçamento Federal para viabilizar a suplementação de recursos. O órgão mantém a expectativa de concluir todas as compras ainda em 2025, garantindo a entrega para o próximo ano letivo

Redação Saiba+

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Barroso defende regulação da internet e afirma: “Mentir precisa voltar a ser errado”

Presidente do STF vota por responsabilizar redes sociais e critica uso político da desinformação em evento no Reino Unido

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O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, discursa na abertura do Forum Brazil UK, na Universidade de Oxford, na Inglaterra - Divulgação/Forum Brazil UK

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, defendeu neste sábado (14) a regulação do conteúdo nas redes sociais e afirmou que “mentir precisa voltar a ser errado”. A declaração foi feita durante a abertura do Brazil Forum UK 2025, realizado na Universidade de Oxford, no Reino Unido, onde o ministro discursou para estudantes brasileiros.

Barroso, que também é patrono do evento, destacou os desafios políticos e sociais enfrentados pelo Brasil, com foco na desinformação e no impacto das redes sociais no debate público. Segundo ele, a mentira se tornou uma estratégia política deliberada, o que ameaça a integridade das democracias.

A verdade não tem ideologia, mas a mentira deliberada é uma coisa muito ruim que passou a dominar o mundo como estratégia política”, disse Barroso. “É muito importante fazer com que mentir volte a ser errado, não é uma estratégia legítima na vida.”

O ministro aproveitou o evento para comentar temas como voto impresso, defendido por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e reiterou a confiança na urna eletrônica, duramente atacada por setores bolsonaristas. Barroso também citou os avanços do país, apesar dos retrocessos institucionais e dos desafios econômicos.

No mesmo dia, Barroso participou de um debate com o diretor jurídico do Google Brasil, Daniel Arbix, sobre a regulação da inteligência artificial, justamente no momento em que o STF julga o Marco Civil da Internet. No processo, o plenário já tem maioria para decidir que as plataformas podem ser responsabilizadas por conteúdo de terceiros, abrindo precedentes para a regulação de grandes empresas de tecnologia.

Dos 11 ministros, 7 votaram a favor da responsabilização, incluindo Barroso. O ministro André Mendonça foi o único até agora a defender a constitucionalidade do artigo 19, que protege as plataformas da responsabilização automática.

Precisamos impedir que o mundo desabe num abismo de incivilidade. O mundo ficou tão polarizado que nem o senso comum se consegue como senso”, afirmou Barroso.

Em sua fala, o presidente do STF também criticou o cenário internacional, com destaque para a “decadência do multilateralismo” e o avanço de regimes onde “a força tem valido mais que o direito”. Ele ainda exaltou os 40 anos de estabilidade institucional do Brasil, apesar de reconhecer que o país enfrenta desafios políticos e econômicos.

O Brazil Forum UK é realizado desde 2016 por estudantes brasileiros no Reino Unido, com o objetivo de debater os principais desafios do Brasil com especialistas, empresários, acadêmicos e lideranças públicas. A edição de 2025 tem como tema “O caminho brasileiro rumo ao protagonismo”, com painéis sobre sustentabilidade, COP30, inteligência artificial, segurança pública e educação.

O evento contou com patrocínio de instituições como Fundação Lemann, Google, Fundação Itaú, Ifood, Haddad Foundation e Ideia, e teve a participação de nomes como o embaixador Antonio Patriota, a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), a executiva Luana Ozemela (Ifood) e Eduardo Saron (Fundação Itaú).

Redação Saiba+

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Moraes manda soltar Gilson Machado, ex-ministro de Bolsonaro

Ministro do STF considerou que prisão preventiva se tornou desnecessária após diligências; ex-ministro será monitorado e impedido de sair do país ou falar com outros investigados

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Gilson Machado, ministro do Turismo do governo do presidente Jair Bolsonaro Foto: Roberto Castro/MTur

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou na noite desta sexta-feira (13) a liberação do ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL), preso preventivamente horas antes, no Recife, sob a acusação de tentar ajudar o tenente-coronel Mauro Cid a deixar o Brasil. Para Moraes, as diligências realizadas pela Polícia Federal tornaram a prisão “desnecessária”, podendo ser substituída por medidas cautelares.

A decisão impõe ao ex-ministro proibição de deixar o país, cancelamento de passaporte e vedação de contato com outros investigados, inclusive por meios digitais. O inquérito segue sob sigilo no STF e está sob a relatoria do próprio Moraes.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), Gilson Machado teria tentado, em maio, intermediar junto ao consulado de Portugal, no Recife, a emissão de um passaporte português para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. O objetivo, segundo a investigação, seria viabilizar a fuga de Cid do território nacional, diante da reta final do processo da tentativa de golpe de Estado de 2022.

Machado nega acusações e diz que agiu para o pai

Em depoimento à PF, Gilson Machado negou qualquer envolvimento com Mauro Cid desde 2022 e afirmou que o contato com o consulado português foi feito apenas para renovar o passaporte de seu pai, Carlos Eduardo Machado Guimarães.

A defesa do ex-ministro reiterou que ele não esteve fisicamente no consulado, apenas entrou em contato por telefone, e que nenhum documento foi emitido em nome de Cid.

Já Mauro Cid, ouvido pela PF no mesmo dia, também negou qualquer plano de fuga, apesar de possuir cidadania portuguesa. Segundo seus advogados, a viagem de seus pais e esposa para os Estados Unidos, no fim de maio, foi para uma comemoração familiar e com passagens de ida e volta já definidas.

PGR aponta tentativa de obstrução e favorecimento pessoal

Apesar das negativas, a PGR alegou que há indícios de favorecimento pessoal e obstrução de investigação envolvendo organização criminosa, com base em movimentações recentes de Machado. Em manifestação sigilosa ao STF, o procurador-geral Paulo Gonet destacou que o plano teria sido articulado “diante da iminência da conclusão da fase de instrução do processo penal”.

A PGR também havia solicitado a prisão de Mauro Cid, mas Moraes determinou buscas e apreensão, além de novo depoimento do militar. Cid firmou acordo de delação premiada, com cláusulas que exigem colaboração total e verdadeira. Se houver indícios de que ele tentou obstruir a Justiça, poderá perder os benefícios do acordo, incluindo eventual redução de pena.

Gilson Machado: da sanfona à cela

Gilson Machado ficou conhecido por ser um dos rostos mais próximos de Bolsonaro, com participações frequentes em lives e eventos do ex-presidente. Veterinário de formação, foi presidente da Embratur, ministro do Turismo e candidato a senador por Pernambuco em 2022. Em 2024, tentou a prefeitura do Recife, mas não se elegeu.

Nas redes sociais, Machado se apresenta como “cristão conservador e patriota”, mantendo forte ligação com o bolsonarismo. A investigação sobre seu suposto envolvimento no episódio Mauro Cid marca um dos momentos mais delicados de sua trajetória política.

Redação Saiba+

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