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Brasil

Lula repete os erros de Dilma e mantém juros da dívida pública em patamar de crise

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Foto: dibulgação

Desde dezembro de 2024, o governo Lula tem emitido títulos da dívida pública com vencimento de cerca de dez anos pagando juros reais acima de 7% ao ano — o mesmo patamar observado durante a crise fiscal e política que culminou no impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Quatro meses depois, a taxa não apenas se manteve elevada, como reforça um alerta já conhecido do mercado: a dívida segue em alta, e o governo parece não ter plano confiável para revertê-la.

A semelhança com o segundo mandato de Dilma não é apenas simbólica. Entre 2015 e 2016, os papéis do Tesouro operaram acima de 7% por seis meses, até o Congresso encaminhar a saída da então presidente. Agora, no terceiro mandato de Lula, a persistência da taxa elevada indica desconfiança generalizada sobre a política fiscal e a falta de comprometimento com um ajuste robusto das contas públicas.

Déficit alto e promessa de ajuste que não veio

O Brasil carrega hoje uma dívida bruta de 76% do PIB, cenário que, segundo economistas, exige um esforço fiscal contínuo e transparente. No entanto, os sinais dados pelo governo Lula caminham na direção oposta. Em dezembro passado, após entregar um pacote de cortes tímido e insuficiente, a equipe econômica abandonou a promessa de controlar os gastos, preferindo apostar em medidas de estímulo ao consumo, como ampliação da isenção do IR e novas linhas de crédito.

Segundo Julio Ortiz, CEO da Cx3 Investimentos, o governo deixou claro que a prioridade é política:

“O governo já demonstrou que a reeleição é mais importante do que arrumar a casa.”

Taxas recordes, mercado desconfiado

O Tesouro IPCA+ 2032, que remunera inflação mais juros, foi vendido a uma taxa de 7,84% ao ano no último leilão (1º de abril). O título com vencimento em 2035 saiu a 7,57%. Ambos estão entre os maiores patamares da história recente. Já o IPCA+ 2026 — mais sensível ao curto prazo — atingiu impressionantes 9,51% na última sexta-feira (11).

Essas taxas são reflexo direto da desconfiança do mercado. Como explica o ex-secretário do Tesouro, Jeferson Bittencourt, o problema não é mais incerteza, mas sim a certeza de que o atual arcabouço fiscal não tem força para conter a dívida:

“Hoje, essa taxa de juros não está refletindo nenhuma incerteza, mas a clareza do que o arcabouço vai entregar: do jeito que está, a dívida só cresce.”

Mesmo em um cenário hipotético de contas equilibradas — o que está longe de ser o caso —, o Brasil levaria 13 anos para estabilizar o endividamento. Com déficits recorrentes, o quadro se agrava.

Comparações que incomodam

Durante o governo Dilma, o Brasil chegou a pagar sete pontos percentuais a mais que os EUA em seus títulos. Hoje, essa diferença é menor — em torno de 5,5 pontos —, o que mostra que o cenário internacional é mais favorável. Ainda assim, os investidores seguem exigindo prêmios elevados, o que compromete o custo da dívida e prejudica toda a economia, incluindo investimentos privados.

“Até 2027, não vai ter mudança importante nenhuma”, avalia Ortiz.
“O Brasil está crescendo em torno de 2% a 3%, mas da pior forma possível: via consumo, sem ganho de produtividade.”

Ajuste fiscal fora de pauta

A aposta do governo Lula parece ser clara: manter o consumo aquecido até as eleições de 2026, mesmo que isso custe mais endividamento e juros altos. Analistas ouvidos pelo mercado já veem um abandono definitivo da agenda de corte de gastos, e o impacto dessa decisão já se reflete na curva de juros.

A deterioração na confiança fiscal não afeta apenas o governo. Com as taxas dos papéis públicos em níveis históricos, o custo do crédito para empresas também dispara, freando investimentos e ampliando a dependência de consumo como motor da economia.

Conclusão: rumo incerto, com lições ignoradas

Ao repetir os mesmos erros do governo Dilma, o governo Lula reacende fantasmas que o país ainda não superou: crescimento de baixa qualidade, dívida crescente e ausência de responsabilidade fiscal. O mercado já sinalizou que não acredita mais em promessas — exige ação concreta. Enquanto isso, os juros seguem altos, os investimentos travam e a conta, mais uma vez, ficará com o brasileiro.

Redação Saiba+

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Brasil

Na educação, a pandemia não acabou

Dados do Saeb mostram recuperação lenta após a pandemia, que só agravou problemas crônicos da educação nacional, como a defasagem do ensino médio e da formação em matemática

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Foto: reprodução

A pandemia foi a maior ruptura educacional da história mundial. O Brasil ainda viveu uma crise dentro da crise, pecando por falta e por excesso. É um recorde difícil de bater, mas o Ministério da Educação (MEC) concorre ao título de pasta mais desorganizada e incompetente da gestão de Jair Bolsonaro. Em quatro anos, foram cinco ministros — menos preocupados com a instrução do que em transformar o MEC numa trincheira de guerrilhas culturais. Por outro lado, por excesso de zelo ou simples comodismo, o Brasil foi um dos países que mantiveram as escolas fechadas por mais tempo no mundo.

Com a edição de 2023 do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), pela primeira vez foi possível analisar em detalhes o efeito da pandemia sobre o desempenho de alunos do ensino básico. Um levantamento do Todos Pela Educação revelou que, em 2023, a aprendizagem média dos estudantes ainda não tinha voltado aos patamares de 2019. Projetando-se a trajetória ascendente, não é impossível que hoje já tenha voltado. Mas o ritmo lento preocupa. Além disso, desigualdades educacionais já evidentes antes da pandemia persistem — e, em alguns casos, se aprofundaram — com diferenças marcantes entre estudantes de redes públicas e privadas, entre diversos grupos socioeconômicos e entre unidades da Federação. No caso das desigualdades raciais, em 2023 elas foram maiores do que em 2013.

O estudo buscou ainda enquadrar o impacto da pandemia no contexto mais amplo da evolução da educação nacional nas duas últimas décadas. Nessa perspectiva, houve avanço relevante, mas ainda insuficiente, no percentual de estudantes com níveis de aprendizagem considerados “adequados”, conforme os critérios do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa).

Os índices de sucesso se mostraram decrescentes à medida que se avança nas etapas da educação básica. Entre os alunos do 5º ano, por exemplo, em 20 anos o percentual com nível de aprendizado adequado em português cresceu de 21% para 55% e, em matemática, de 11% para 43%. No caso dos alunos do 9º ano, as elevações foram menos expressivas: de 15% para 36% em português e de 9% para 16% em matemática. No ensino médio, a elevação em português foi a menor dos três níveis: 13 pontos percentuais (de 19% para 32%). Em matemática, houve retrocesso — de 5,8% para 5,2% — ou seja: o Brasil conseguiu piorar o que já era péssimo.

Foto: reprodução

Assim, é possível distinguir dois desafios críticos e persistentes para a educação básica: em termos de estágios, a formação no ensino médio; em termos de disciplinas, a formação em matemática. Nesse último caso, o tamanho do problema é evidenciado pelo desempenho das escolas particulares. Em geral, alunos do ensino privado têm resultados razoavelmente próximos dos de seus pares nos países desenvolvidos e superiores aos de seus conterrâneos nas escolas públicas. Na matemática, porém, a defasagem é geral: pior nas escolas públicas, mas ainda assim muito ruim nas privadas.

No mundo da revolução industrial 4.0, esse é um problema estrutural grave não só para a evolução pessoal dos alunos, mas para o desenvolvimento socioeconômico do país. Como mostrou um estudo da Fundação Itaú, trabalhadores em ocupações que usam muita matemática têm maior nível de escolaridade, menor taxa de informalidade e melhores salários que a média. A defasagem no ensino de matemática tem plausivelmente uma relação direta com a queda acentuada de matrículas nas graduações de Engenharia — segundo o Instituto Semesp, só em Engenharia Civil houve diminuição de 51% desde 2015 —, na contramão de países como Coreia do Sul, China ou Estados Unidos, que investem pesadamente nesses profissionais visando à criação de infraestruturas e novas tecnologias.

Mais do que sintoma da má formação em matemática, o encolhimento do número de estudantes de Engenharia é emblema de um país que, a duras penas e com atraso — como evidencia a lenta recuperação pós-pandemia —, começa a compreender a importância da educação para construir o futuro.

Redação Saiba+

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Brasil

Lady Gaga vira meme patriota e agita direita brasileira nas redes

Vestido com as cores do Brasil em show no RJ vira munição para bolsonaristas nas redes sociais

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A apresentação de Lady Gaga neste sábado (3), em Copacabana, no Rio de Janeiro, está rendendo muito mais que aplausos. Enquanto a diva pop encantava o público no palco, quem também se apresentava — no palco virtual — era a direita brasileira, que aproveitou cada gesto da cantora para disputar narrativas políticas nas redes sociais.

O momento mais explorado foi quando Gaga rompeu um vestido vermelho, revelando um figurino por baixo com as cores verde, azul e amarelo — uma cena teatral que, em poucos minutos, foi transformada em munição ideológica. Setores liberais e conservadores logo passaram a compartilhar memes e mensagens satíricas, apontando o gesto como um suposto apoio velado ao conservadorismo.

Entre os memes que viralizaram estão frases como “Até a Gaga abandonou o vermelho”, “Patriota e conservadora”, “Gaga 2026 é Bolsonaro de salto”, “Treta no inferno: Nem a Lady Gaga suporta mais a cor vermelha”. As postagens se espalharam com rapidez no X (antigo Twitter) e Instagram, dominando hashtags em alta.

A cena, que poderia ser apenas mais um elemento de uma performance artística, virou pano de fundo para a politização do entretenimento em pleno ano pré-eleitoral. Enquanto Lady Gaga brilhava no palco, a direita digital não perdeu tempo para transformar cultura pop em capital político.

Redação Saiba+

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PF: 67% das vítimas de fraude no INSS são rurais

Investigações revelam que R$ 2,87 bilhões foram descontados indevidamente de aposentados rurais; Contag aparece como principal beneficiada no esquema.

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Lula ao lado de Carlos Lupi (PDT) - Reprodução

Uma investigação da Polícia Federal (PF) em parceria com a Controladoria-Geral da União (CGU) revelou um esquema de fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com foco especialmente em aposentados da zona rural. De acordo com o inquérito, 67% dos beneficiários atingidos pelos descontos indevidos vivem em áreas rurais, totalizando prejuízo estimado em R$ 2,87 bilhões para essa parcela da população.

No total, entre janeiro de 2019 e março de 2024, foram descontados R$ 4,28 bilhões dos beneficiários do INSS sob a justificativa de mensalidades associativas. Desse montante, aproximadamente R$ 2,1 bilhões — quase metade do valor — foram destinados à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), apontada como principal beneficiária do esquema.

Ainda segundo a PF, os outros 33% das vítimas são aposentados do meio urbano, com descontos indevidos que somam R$ 1,41 bilhão. Em 186 municípios analisados, 19 cidades do Maranhão e do Piauí apresentaram índice igual ou superior a 60% de aposentados com descontos registrados em seus benefícios.

O relatório da PF destaca a vulnerabilidade dos aposentados rurais, que enfrentam obstáculos como falta de acesso à internet, dificuldades de locomoção e escassez de informação — fatores que dificultam a verificação e o cancelamento dos débitos não autorizados. Muitos sequer têm conhecimento sobre a existência dessas cobranças.

A denúncia teve repercussão imediata em Brasília. Cinco autoridades do INSS foram afastadas de seus cargos por suposto envolvimento no esquema. A pressão política resultou na renúncia do então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, que entregou seu cargo na última sexta-feira (2).

Redação Saiba+

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